sexta-feira, abril 27, 2007

Esperança é um pêndulo que balança. Às vezes acho que com uma força que parece vento de agosto. Em alguns dias, é uma calmaria que deixa a água suave, mas não leva para nenhum lugar. Noutros, vira voraz vento veloz.

Mas eis que esta tal de esperança, na maior parte do tempo, é verdade, insiste em vir por nossos olhos olhando para os outros. A gente a perde até quando vê, presta atenção, mas jamais acreditaria que ali, ali mesmo, tão movimentado, seria surpreendido.

Uns dez ou quinze meninos. A idade não varia muito disto. Foi preciso falar grosso. Não, você não vai jogar essa pedra em mim. Não, eu não tenho "um bucado de onça na carteira". E sim, estou apenas indo para casa andando. Criavam coragem. Não tiveram: me safei. Mas um dia vão ter, mais cedo ou mais tarde. Mais que pedras, sei que vai ser à bala.

Foi-se. Só que voltou, no dia seguinte, lá longe, no meio do sertão da caatinga que se chama assim e não fede. Pelo contrário. Tava com aquele cheiro bom de chuva, barro molhado e milho crescendo.

Estes eu pude contar. Eram dez. A idade, não variava muito disto. Mas bastou ficar calado. Eles que cantaram. Eles que falaram em ser tal de cidadão. Eles tinham a rima. Eles embolaram, se fizeram de doutor a cumpadi, falando de terra, falando da terra.

E veio de novo.
Esta velha esperança de acreditar em todos.

quinta-feira, abril 12, 2007

Tacava a bola na parede com força e dava um salto, fazendo pose, para defender feito homem-elástico. É claro que eu sabia aonde ela ia, mas errava quando era hora de ser o goleiro reserva. Bom mesmo era se ver como artilheiro.

Luisinho. Até admitira. Nome de craque. Só era pena que na escola as outras pernas na quadra não ajudassem como o portão da garagem, e o apelido que ainda hoje odeio fosse só mesmo uma referência ao tamanho. Deixa pra lá. De tarde, esquecia tudo, vestia a blusa do meu pai - ia até depois do joelho - e fazia gols sozinho.

Em uma certa época, eu não ficava tão sozinho e pegava ele me olhando. Daquela cama de hospital na sala de casa, meu avô nunca pode fazer um único comentário, mas eu sentava e contava tudo. Se ele pensou que um dia teria mais gente na torcida, errou feio. Primeiro porque morreu pouco depois, ali mesmo. Segundo porque a parede não deixava ver o que eu fazia quando cansava.

Olhava pra cima. E não era em busca de Deus, nem de ajuda. Pelo contrário. O martírio de alguns me fazia bem. Era um barulho que vinha crescendo, baixava o trem de pouso e curvava para depois morrer na pista perto dali. E enquanto eu olhava as camisas começaram a chegar só mesmo até a cintura, aprendi tanta sigla que até hoje não sei pra quê. Tudo culpa dos AT-26 do 1°/4°GAv, os Xavantes do Pacau da BAFZ e sua rota de pouso.

Estava certo. Decidido. Eu ia ser piloto. E dos bons. Nunca entraria em guerra, mas teria lindas imagens, uma vida agitada e certeira. Pirassununga, Natal, Fortaleza, Anápolis e dali qualquer distância seria pouca para um supersônico. Mais velho, cruzaria oceanos levando gente para lugares distantes.

Só que a Varig não voa mais para o Japão. E os esquadrões foram reagrupados. É óbvio que o plano não faz sentido hoje. Nem nunca. É que são tortos. Vesgos. Pra perto de um lado, pra longe do outro. Estrabismo. Astigmatismo. Sangue escorrendo dos olhos para o rosto como bom resultado de cirurgia que já era uma certa desistência do Dr. Héverson.

Se um curativo incômodo e 3 dias de cegueira quase eterna eram explicações visíveis para ser desfalque nas olimpíadas da 4° série, o que eu não via é que não eram só os titulares que não notavam algo ao não perceberem a ausência do eterno reserva. Aquilo deixava claro que se um dia eu for pra Le Bourget, infelizmente, haverá aeromoças.

Não descobri como um grito, como em Little Miss Sunshine. Foi engolido aos poucos, ano após ano. Conselho após conselho. A cada grau que insistia em não ir embora, a cada dor de cabeça nos 4 anos que decidi simplesmente não depender deles. Consegui passar no vestibular, tirar carteira de motorista e ler muitos livros fingindo ver claramente bem. Só que nesses quase 1.500 dias, teve quem só pensou que eu tinha esquecido de colocá-los naquela manhã. Óculos já eram parte de mim.

Eu não acordaria, nunca, em Pirassununga. Eu não teria a desejada saudades de casa. Mas não cedia. Continuava sonhando com asas, mesmo quando olhava grades curriculares de arquitetura, geografia ou mesmo pedi para ganhar um violão. A resposta foi sim, mas depois de um ano pegando coragem para pedir, ficou difícil perguntar "e aí?" quando notei que não lembraram mais. Deveria ter pedido direto na loja. Fica a lição: não peça nada na praia, que lá só vende peixe e coca-cola. Aprendi isso, mas não quis nem saber de ver aquela prova. Vai que eu passaria. Seria bem pior.

Mas fiquem contentes por mim: o violão nunca veio mesmo. Ainda bem. A voz não é tão melhor que os dribles. Só que ela ainda tem um pouquinho de força, só um fiozinho, que já é o suficiente para perguntar: alguém me ajuda a ser um bom goleiro de verdade?! Quem sabe eu acabe indo aos céus, que nem o vovô.

segunda-feira, abril 09, 2007



É numa praia de ondas tortas que a gente esquece se é domingo ou algum dia dos que terminam em feira. Onde a água ganha valor a cada passo e a fome, sede e até a dor na perna, que insistia em não ir para frente nem mais um metro.... não importam mais. Só porque uma pedra foi esculpida pelo mar e ficou conhecida como furada.

Tudo por uma bela vista.

Seja ela de dia, com sol a pino e a água que não decide se quer ser verde ou azul, ou de noite, quando dá para ver estrelas que eu juraria que não estavam ali. E a hora depende só da vontade e da luz, mesmo que a gente durma depois de umas poucas voltas nas ruas de belos pratos e alguns sonhos, ou acorde quando já queria estar na praia.

Deixa. Vira para o lado, sorri. Bate mais uma foto. Pra quê caminhar mais um pouco se já deu para descobrir que beleza maior não há?! Ah... Jeri...

Tudo por uma bela vida.
Em ondas tortas