quarta-feira, maio 30, 2007



O mais difícil é a volta. Já sabendo melhor o caminho, acelero um pouco mais, uso muito a sinaleira e quando vou pensando em ficar cansado, chegamos. De cara, quer dizer, bem no meio dela, é o nariz que nota a diferença do ar. Mais cinza, menos leve.


Há tantas pessoas nas ruas, as árvores, de absolutas, viram exceção. Quando tem água, vem entre concreto, e fede. Fede feito o asfalto, fede feito as pessoas no ônibus, fede feito a comida do self-service que, aposto, tem um monstro do outro lado.

Lá é diferente. Imagino um alguém com aquele chapéu bem bonito, branquinho, preparando aquela bolonhesa maravilhosa como quem passou o dia inteiro esperando o momento de me servir. A estrada, quando tem tinta sobre piso cinza, tem também laterais verdes e vivas. E mesmo que não queira, o dia começa cedo, então abro o zíper e lá está, o riacho, a poucos metros do travesseiro.

Mas como eu disse, o difícil é voltar. Descarrego as fotos, guardo as roupas que ficaram limpas, penso em uma ou outra frase. Conto quanto sobrou. Dia seguinte, seria vez de acordar cedo. Mas é difícil.

Eu preciso voltar.

quinta-feira, maio 24, 2007

A foto acima, rara, foi batida em 1955, por um fotógrafo que desconheço. Mostra a construção da Igreja de Fátima, no então bairro Redenção, atualmente chamado Bairro de Fátima, em Fortaleza (CE). A obra foi iniciada em 1951, após a visita de uma imagem de Nossa Senhora, vinda de Fátima (Portugal).

Pergentino Maia, que hoje é só o nome da rua onde fui assaltado um dia desses, doou a área para a construção da Igreja e da praça Pio XII. Vendeu todo o resto para as famílias mais abastadas que sonhavam em morar perto de onde se tornaria a principal Igreja católica da cidade, com procissões que superam as realizadas na Sé. Não sei onde gastou o dinheiro.

Os adultos daquela época, hoje, são alguns idosos que resistem em belas casas, especialmente entre a Avenida 13 de Maio (antiga pista de corridas de cavalo) e a Av. Borges Melo, que ligava a Base Aérea à "Estrada do Leite", hoje conhecida por Av. Gomes de Matos. Belas casas, com várias colunas, varandas e amplos quartos.

Cada vez mais raras. Dia após dia, dão lugar a farmácias, bancos e academias. Duas delas tombaram há dois meses. No seu lugar, um grande centro comercial vai ser inaugurado. A propaganda é ufanista: "Bem Vindos ao Futuro".

(Tenho esta foto em um CD, em alta-resolução. Daqui a uns 50 anos vejo o que fazer com ela)

Vez por outra vou lá. De um lado, onde se corria, na época em que educação física era chamada "recreação". Via sacos girarem, folhas e os padres com seus carros. Do outro, as quermesses da adolescência, quando já não quis ir.

Pois aí em cima - alguns anos depois da foto, claro - aprendi o gosto da hóstia, o cheiro da cinza, como se diz adeus às almas e perdi a fé. Entre frases pré-ensaiadas "aceito, aceito, aceito", sem saber a pergunta, decidi que o ruim não é acreditar na falta de lógica, é ser rebanho.

Mas não a deixei para trás. Vez por outra, desço um pouco antes do ponto de ônibus, e fico ali a olhar. Vejo uma empresa lucrativa, vejo as lembranças, vejo um bairro que amo crescendo ao redor.

Vez por outra.

quinta-feira, maio 10, 2007

Fecho os olhos.

A barra de ferro me segura. As pessoas ao lado, também. Esqueço o perigo, o dia, fome, texto. São uns 20, 25 minutos.

Três ou quatro itens na folha da agenda. Só consegui um ou dois. Digo estar doente, devo estar. Vejo a hora ir embora, amanhã faço melhor.

Amanhã acordo mais cedo. Mas não durmo. Abro os olhos. Acendo a luz. Até quando?! Esqueço a hora, viro a página, a figura perde a graça. O avião enfada. A música dói na cabeça. Escovo os dentes.

Nem sou daqueles que só sai de noite, nem sou daqueles que preza pela hora que acorda. Seguro na barra de ferro. Fecho os olhos e aguardo. O final de semana, o final do mês, o final do ano. O pouso, se é que um dia terei.

Caio de lado na curva, passo o cartão e sorrio para a licença. Dou um jeito no fone de ouvido e espero o dia seguinte. E aqui, nestas linhas, a música que seria tão linda não tem letra, é só uma melodia.

quarta-feira, maio 02, 2007

Desculpa, desculpa mesmo, Mariana.

É sério: eu até tentei. Acordei cedo, peguei informação cedinho, passei o dia na espera, mesmo que não falasse. Bem que você poderia ter facilitado para mim, não é?

Porque do meu final de semana que começa sábado meio-dia até domingo de noite eu estava a postos, mas ninguém esperava (por mais que agora digam quem tinham certeza) que fosse logo na hora que se dorme já de olho nas feiras. Aliás, você chegou já era segunda, e nem teu quarto tava arrumado ainda.

Certo, terça foi feriado. Mas você acredita que bloquearam minha conta e hoje eu fiquei até sem almoçar só para poder deixar tudo direito?! Que falta de sorte! Tive ontem a noite inteira pra ir te ver, mas sem um realzinho para gasolina não deu certo.

Tá, tudo bem, eu confesso: também tinha que adiantar trabalho para o dia seguinte. Porque no dia seguinte, ocupado desde ter sono até ter sono de novo, já não seria suficiente para cumprir o que se precisava. Mas eu garanto que entre uma parada ou outra do ônibus, no arquivo carregando ou na hora do copo d'água eu pensei em você.

Sábado dá certo. Só me perdoa que três dias pareçam ser a vida inteira para quem nasceu nesta semana. Mas a vida é assim, ah, você vai ver.