terça-feira, janeiro 15, 2008

Porta fechada, quarto escuro. Era tempo de ter vontade de ter olho nas costas, luz acesa sem interromper o sono, janela aberta... Ou melhor fechada?! Teria medo de um leve toque na ponta do pé debaixo do lençol, uma voz, uma luz, qualquer coisa. Uma Criatura?! Eu riria.

Temor, hoje, é uma bola de pêlos cheia de dentes e frases engraçadas que imito. Alma (alma, não: fantasma. Se é nossa conhecida, é alma. Se é dos outros, é assombração), ET, monstro, sei lá o quê.

Fica o medo de ladrão, de seringa, de seringa (mais uma vez, pra dar ênfase), colesterol, juros, cartão de crédito e crediário. Febre amarela, bêbado e manutenção precária também.

Então antes que o amor seja só nos tempos em que passar a cólera, eu abraço o sobrinho, a mulher e falo de um dia a filha. Medos vão, medos vêm: mas um quarto escuro continua sendo a melhor coisa de ter ficado grande.

Criaturas, criaturas...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Síncope

Como foi o carnaval do ano antes de você nascer?! Escolas de samba, sol, cerveja e tua não lembrança. Morrer não deve ser difícil: quem sabe só esse vazio sem pulso e amarelado das páginas de arquivo. Cheiro de mofo.

Ninguém sentiu falta antes; então saudades vão embora com quem morre com ela. Filhos, é certo. Netos, um pouco. Depois não mais. Só história.

Mas não. Eu não morri. Os lábios ficaram roxos, a pele, branca, e as unhas, geladas. Desliguei o ar condicionado. Sentei. Pedi sal. Com um cantinho do cérebro ainda deu para pensar: vou deixar saudades se esse frio for fim?! Não. Quase nada: só uma síncope.

Rápida e fugaz. Como os faróis do carro da faixa esquerda, à nossa frente, se espremendo no acostamento de olhos fechados.

Tenho fome.

Fome de dia 20, dia distante que nem sequer ficava nesse calendário. Agora era ano passado

Tenho fome de hamburguer sem óleo e macaxeira. Suco de goiaba. Talco nos meus pés e pé de cabra para o lençol. Aguardo a fome dos livros lidos nos dias ainda não passados. Aqueles dias sem sono depois do dia 20.

Calma. Sexta-feira eu entro de férias.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Se envelheci ou não dez anos ou mais neste último mês, não sei.

É certo que este blog recebe agora palavras tão perdidas no tempo quanto as árvores de Natal em janeiro. E que, se for verdade que amar é trilhar caminhos juntos, mais de 5.000 quilômetros de asfalto em menos de 30 dias me faz um felizardo.

E tão ou não semanticamente direto, escreveria sobre os três discos mais importantes do ano. Ou de um show que me fez menino de novo. Da Asa Branca no mato queimado do sertão sem fim, do Natal de árvore de rede, da folga de um dia não fazer nada, absolutamente nada. Nem sequer escrevi.

Fiz foi olhar para a janela, tomar banho de mar, prender a respiração e ver o horizonte do pôr do sol em tanto canto diferente. Com uma mão sob e sobre a minha, em silêncio e sem escrita, como a roupa bonita e o perfume escolhidos à dedo para nem sequer abrir uma porta.

Aqui ou em qualquer lugar.