sábado, dezembro 25, 2010

"Eu conto as horas que passam
Eu conto estrelas no céu
Na solidão das noites sem graça
Nos quartos de hotel
como se chama essa cidade?
como se chama atenção?
De uma cidade que dorme
Enquanto a gente, infelizmente, não?"

Comecei o ano morando em um hotel. Já tinha casa, mas ainda estava lá. Mudei-me só no dia 23 de janeiro. Bem me lembro: um colchão no plástico, um fogão na caixa. Nada mais. Um sinal wireless aberto. Nada mais.

Noites vazias e quartos de hotel continuariam. Foram 83 dias. Oitenta e três longos dias longe de Brasília. Dias corridos, do norte ao sul do país. E até fora dele. Jogado em um cobertor imundo em uma terra distante que tremia. Calorento na selva. Isolado em grandes cidades.

Mas também tive dias bons longe daqui. Até o fim do ano, vão ser 33. Praia, pai, mãe, pizzas conhecidas e lembranças. Também uma ida à cidade perto. Ainda prefiro Guaramiranga.

Viajei muito esse ano. Ainda bem. Apesar de tudo, gostei.

Sempre foi bom o retorno. Sempre olharei emocionado pela janela. Ou até quando não tinha. Voei 70 vezes, de acordo com a lista precisa que já precisa de mais folhas na agenda. Desconsiderei uns voos de transporte de alimentos. Mas lembro de cada um deles. De Blackhawk. De Legacy. De Super Tucano! Até TAM, Gol, Passaredo, Avianca, Webjet. De UTI aérea.

Ali, onde posso ver que o céu tem muitos tons de azul.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Quando eu tinha 20 anos, Noblat era Bíbilia. Havia quatro tipos de jornalistas: os raros, que escreviam bem e apuravam bem; os que escreviam bem, mas apuravam mal; os que apuravam bem, mas escreviam mal; e as "grandes figuras humanas".

Hoje, não há quatro tipos de jornalistas. Hoje, hão jornalistas. Assim mesmo, no verbo mal conjulgado. Alguns com diploma, outras sem. Hão.

Frases mal escritas, nenhuma linha de pesquisa, como é mesmo o nome do oceano que separa a França do Brasil?! Hão. Moças de brinco que brilham, homens de óculos grandes. Hão.

Não há mais filosofias, vontades, ideologias. Hão frases fáceis e reclamações. Hoje eu vejo muito mais que um tipo. Nem sequer são grandes figuras.

Hão.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Rio do inglês correto, mas errôneo. Mais uma vez, o voo está embarcando. Is now boarding. Snowboardig. Imagino a prancha colorida na montanha nevada. O sorriso do turista, entre todas essas caras.

São faces de olá. São faces de adeus. São faces como a minha, de até logo. Rostos que dizem "não vou mais para o trabalho de ônibus". Mas levam horas, dias até, para voltar para casa.

Ouço os sotaques de todos os locais. Nesse caos-aeroporto-lotação de capital do Brasil em um domingo à noite. Os R puxados. Os xiados que até irritam. Nosso canto cantado.

Se contar com os dos pés, uso os dedos para quando estarei na praia. Pai, mãe, todo mundo, areia, um natal como não tive ano passado. Feriado que conquistei e que agora conto em muitos dedos.
Há pouco estive lá. Quando a porta traseira abriu, abri os pulmões e inspirei fundo aquele ar que sempre confundi com vento. Não era frio, mas refrescava. Agrádavel, meio molhado, de casa.

Mas não pisei no solo. Não saí do avião. Deveria permanecer imóvel, pois não era meu destino. Cruel. Como quem rezou demais e recebeu punição. Eu, que tinha o Makro e a Lagoa da Parangaba como locais de tristeza, vontade e esperança, naquela hora só podia me esticar e ver de longe as ruas amigas sumirem sob a asa.

Ah! Aquele destino um pouco ao Norte, um pouco ao Leste! Um tanto da minha vida, que sorte! Como mais perto do sol, mais perto de mim. Mais perto de ser feliz. Onde não é mais casa, mas para sempre será um lar.

Atrás de mim, agora, uma fila vai para lá. Vontade de apertar as mãos, um a um, e desejar boa viagem. A fila se vai. A moça de preto e vermelho mal olhas fotos. Não confere os bilhetes. Nada. Ela só recolhe os papéis, nesse caos-aeroporto-BSB. Haverá uma poltrona vazia?

Posso correr, posso fugir. Posso só depois fingir que foi engano. Mas merda, sou lúcido, Campos. Vou mesmo para Manaus.

Com muitos dedos nas mãos. E nos pés.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Sexo e morte. Não há qualquer outra força além disso. Há quem pense que somos só uma grande máquina controlada por genes que querem se multiplicar a qualquer custo. Antes que o tempo acabe. Prefiro acreditar que somos simples, e só. Raiva, inveja, desejo, esperança. Tanto faz. São só derivados de duas forças opostas, mais fortes, acima do que somos, acima do que conseguimos pensar.

Tentamos raciocinar trocando os nomes. Pode-se chamar de amor. Pode-se chamar de medo. Pode-se chamar de Deus. Ou de Diabo. Tanto faz, não importa. Ilusões que complicam o que é para ser fácil. O ser humano se importa com os seus limites, mas só vivencia de fato o meio.

É o caminho que importa, e não a chegada, diria alguém de olho puxado. De fato, morremos só uma vez. Multiplicamos algumas, ou nenhuma. E temos medo de ambas as coisas! "É preciso se conhecer muito bem para se multiplicar", diria O Encontro Marcado. Já a morte vem calada.

Inventamos Deus. Egoístas. Um Deus à nossa imagem e semelhança. Um Deus panacéia, amigo que indica coisas certas, mas nos conforta nas erradas. Esquecido quando conveniente, solicitado mesmo que para passar por cima dos outros.

Desejo de sexo, medo da morte. É lógico que Deus surgiria ao se olhar as estrelas. A última visão de muitos. Na boca de um animal selvagem, atravessado por uma lança, convalescente de uma doença fatal. O melhor momento, quando em posição favorável. Mas também pedras, água, terra, lençois.

Vivamos o meio. Não os extremos. Pouco importa se o hormônio controlado dos ovários torna inócuo o momento de prazer. Ou capa de borraca. Não se interessa se os hormônios aplicados na comida reduzam o tempo de vida. Pouco importa a multiplicação, pouco importa a morte.

Nada de Deus, nada de sexo. Só os segundos de prazer. E mais nada. Como trocar o suor do rosto por água pura, concluir um pensamento e, aí sim, se auto-dizer: sim, eu existo. Chegar meio do dia e encontar lugar no mundo. Olhar para as estrelas sem sangrar, nem gozar. Ver limites e o que há muito mais além deles.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Natal venta Fortaleza
Mas não a é.
Não há ela

Brasília é uma estranha agora distante.
Mas com lugar que chamo de casa.
Absorto em emoções entre ser e o faça.

Neste mar eu flutuo imóvel. Meio afogado
Gosto salgado e voz de sotaque
Tendo opção, prossigo dócil
Ela, exceção a misantropia própria

Dentre caminhos passo incólume
Olho a velocidade de dia
Olho a ligeireza da noite
Anexo ao devir hoje forte

quinta-feira, outubro 07, 2010

A maior lição de economia que tive, na vida, foi aos dez anos. E foi uma lição doída, para não dizer odiada.

Tudo começou no dia do meu aniversário. Queria umas duas roupas, e, quem sabe, um brinquedo. Naquela época as crianças ainda queriam ganhar brinquedos - e a Mesbla resolveria tudo isso.

Mas minha mãe não queria. Ela contava o dinheiro, cuidado do cheque. Estava preocupada. Fiquei angustiado de sequer ir na parte nova do shopping, e fomos para casa.

Pouco menos de dois meses depois, lá estávamos novamente. Aniversário da minha irmã. Presente, roupa e até compramos nosso primeiro tocador de CD, aquele que conectava no AUX IN do som grande da sala.

No começo, fiquei com raiva. Depois, lembrei que o dia do meu aniversário de 10 foi histórico. Todo mundo passava o dia a multiplicar tudo por dois mil setecentos e cinquenta. Também torcia para receber uma ou outra daquelas notas novas.

Dezesseis anos depois, tenho dúvidas se alguém lembra que se ocorreram coisas boas, ou coisas ruins, tudo depende daquele 1° de Julho de 1994. Quando 2.750 virou Um.

quinta-feira, setembro 30, 2010

Ouço vozes sobre rosto cansado. O meu.
Sou avisado de olheiras. Olho-as.

Penso em sentimento, deixado de lado. Sem tempo para abraço. Falta espaço para algo. O mundo explode, deixa para lá. Tenho felicidade, tudo bem. Passa a hora do sono, não passaram os fatos.

Tenho que mudar. Tenho que viver. Mas tudo bem. Tudo bem.
Abro o PC. Abro o arquivo. Ponho os fones de ouvido. Não é música que ouço. São falas. Olho fotos que não são minhas. Lamento cuidar do som e da cor tão bem. No rosto dos outros.

No meu cai um fio de cabelo branco.

What does it matter to ya
When ya got a job to do
Ya got to do it well
You got to give the other fella hell

quarta-feira, setembro 29, 2010

Perdoe-me o escatológico. O banheiro nos ensina a felicidade.

Utilizar o vaso jamais será sinônimo de prazer. Nunca. A não ser, claro, para um ou outro doente. Mas sigamos o mundo da normalidade. Nunca o desejamos. A não ser quando precisa. Quando o elevador parece demorar, quando as escadas não têm fim e o corredor comprido demais. Nessas horas, ir ao banheiro traz sorriso, traz alívio.

O ser humano está sempre desejoso por mudanças. Mudança para melhor. Um novo carro, uma casa própria, aquele CD, uma bolsa mais bonita, o computador veloz. Mas não há nada que mais desejamos que o status quo. Estar como é.

É por isso que o banheiro ensina a felicidade. Sorrimos por nada. Nada muda ali. Saímos com os mesmos compromissos, dívidas, preocupações e prazeres. Mas sorrimos. Um riso sincero, sozinho, feliz.

Como um avião no pouso de retorno. Toca a roda mas leva quase uma hora para pôr o pé na rua. Mesmo assim, às vezes tem palmas. Cansado, a mochila mais cheia peso menos na volta.

Desejamos, queremos, lutamos por mudança. Mas nada, nada, nada, nada como conseguir a vida de volta. A vida que se gosta.

sábado, setembro 18, 2010

"Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar...."

Um texto na tela, uma conversa no fone, um vídeo na câmera, um PC a ser pronto. Toca telefone, toca telefone, toca, telefone. Dizem meu nome. Dizem meu novo nome. Pedem por meu nome.

Não sinto os pés. Desejo o fim das paredes. Desejo ter a curva como menor distância entre dois pontos. Penso no ácido jogado nos tecidos. No adiposo não corrido correndo nas veias que querem subir à testa.

Vou já voar, vou já voar. Não da janela, para o ar. Meu carimbo diz sim, sim, sim, sim.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Je ne parle pas anglais. Un petit peu, pero no mucho.
Mas adoro algumas palavras.

FATE.

Parece com fato, mas é mais forte. É fato irrevogável, desses da vida que a chama de destino. Rima com LATE, de atrasado, passado, demodé. Melhor assim.

Curvo os pés sobre os fatos tão claros e me pergunto como não havia pensado sobre isso antes. Se parecia só uma menina, é que seria minha. Minha última, minha única. De fato, mesmo que parecesse tarde, sempre.

O nome acima do texto pago, desejado, lido e relido, agora em uma tabela com telefone e pedidos a analisar. Por mim, faríamos todos! Por mim, um turbina em cada página de jornal! Se os jatos me fizeram delirar com uma só foto, que eu hoje eu clique ENVIAR e torça para que, em algum lugar, um menino também sonhe com os olhos um pouco menos tortos que os meus.

E penso que, não, não é tarde.
Nunca é tarde se já faz parte da vida.

Seja para os papéis na minha mesa. Seja para a alegria ao abrir minha porta.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Abro os olhos. Creme. Barba. Bigode. Banho. Sinto um pouco de frio e visto a primeira parte da roupa. Branco em cima, cores sólidas abaixo. Geladeira, caneca, leite, um minuto e vinte. Chocolate. Duas colheres. Bebo cereal, mastigo o leite. Olho o relógio.

Creme. Dente. Perfume. Resto da roupa. Sapato. Oi. Beijo.

Elevador. Caminho, espero, ônibus. Chego. Elevador. Oi.
Saio. Elevador. Caminho. Ônibus, espero, chego.

Elevador. Vem vindo elevador. Passos rápidos. Sorriso no rosto. Pulsação que ainda hoje insiste em subir. Só mais uns passos. Como é longo esse corredor! Chego! Sim, cheguei! Estou em casa! Dedo na sirene.

Péeem

Abre a porta. Sorrio.
E a vida faz todo o sentido.
Eu não anistiei ninguém.
Eu não abria uma só das grades. Não pouparia de um só choque elétrico quem ligou os fios. Tenho medo dos uniformes, mataria-os. Odeio os libertários em busca de troca de cabeças, e corte de tantos outros. Mataria-os. Todos. Todos. Todos.

Eu não anistiei ninguém.
Eu não sofri nenhum dos crimes.
Eu não tive uma só palavra apagada.
Nem sequer um sonho cancelado.

Mas tenho um país de mentes fechadas. Por quem as fechou. E por quem até hoje gostaria que assim fosse, só para ter um inimigo claro a derrotar.

Eu não anistiei ninguém.


"E tudo aquilo tudo o que eles sempre lutam
É exatamente tudo aquilo que eles são"
Às vezes tenho a impressão que Brasília nada mais é que um bairro de Fortaleza. Um bairro meio distante, onde levo minha vida. No sábado, depois do cinema, poderia pegar um ônibus barato ou dirigir por alguns buracos até chegar onde gostaria.

Iria. Poderia. Seria.

Lembro dos dois mil e tantos quilômetros. Lembro dos amigos que não vejo em uma contagem crescente de meses. Será que eles ainda me estimam como o contrário é tao real?!

Tive meus pais. Tive meu sobrinho. Tive até sorriso de conhecer essa cidade que antes, de verdade, não conhecia. Eu me senti como lá. Até uma perna fazer barulho de quebra.

De tão perto, tão distante. Tão frágil como um corpo que se protege sob capuz e braços abraçados de desespero do que fazer. Sem saber. Sem ter muita ideia. Sem sentir a dor, mas a todo instante imaginá-la negociando entre uma dor que poderia ser fatal e o alívio de uma chegada.

Mas visto azul. Sim. Eu visto azul! E por toda aquela tarde pensei como cada revista de avião valeu por existir. No céu mais alto que já voei. No cuidado mais importante que já fiz. Ter minhas mãos mais confiáveis que qualquer instrumento médico.

Feliz aniversário pra mim. Feliz dia das mães, pra ela. Feliz por todos os dias que perdemos.

quinta-feira, julho 08, 2010

Nunca pensei que, aos 26 anos, pulsaria por meus pais como quem pede pedido de aniversário. Eles chegam com mala e cheiro de maresia. Vem com vontade de conhecer ruas e lugares de fotos, mas têm maior prazer de estarmos, assim, com sofá e filme. E aqui, um duo feliz de gordura e calos nas mãos.

Como em um domingo à tarde de uma vida que passou. Como eu os sinto em saudade.

Percebo, mais uma vez, ser uma mistura entre a escrotização dela e a permissividade social dele. De um lado, maravilhoso humor negro e acidez gostosa, como um copo de coca-cola. Ao par, o talento de encontrar vida nas entranhas verdes de uma superquadra. Fazer o vendedor dizer obrigado, assim mesmo, em itálico, verdadeiro.

Daremos, juntos, adeus ao roxinho aos 60 mil Km e dizemos Oi ao raivosinho pegue na maternidade. Pegue com um sorriso deles que diz "eu gostaria de ser comigo, mas é bom ser seu". Agora vejo mapas rodoviários com mais coragem.

Sinto saudades, mato saudades. Traço caminhos e arrumo novas rodas para os próximos. Sempre nós dois.

quarta-feira, junho 23, 2010

Que seja como Policarpo!

Veja em matas e céus um sentido de pátria. Sinta nos sotaques a beleza de diversidade. Sofra do frio, do calor, e lembre como é grande da ponta a outra. De imensidões verdes, de gigantescos azuis. E no meio o belo amaralo das praias.

Ah, as praias!

Que não me seja pecado achar mais belo os quadros que me mostram como há de ser. Cabeça, tronco, membros. Piso, teto, janelas, cenário. Acusem-me de não saber compreender o gênio. Respondo que sei reconhecer talento, e um bem-feito é sempre maravilhoso.

Longe das dúvidas provocadas, das questões postas por questionar, da beleza idiota da roda de bibicleta na entrada do salão. Afasta-me de mim este cálice. De pura bobagem e somente sangue quente.

O seio nú encanta por se esconder. E não me culpem! Quero os poemas de métrica, quero ver o cunho vernáculo do vocábulo. A beleza a ser apreciada, e não uma gosma a dizer que assim acho. Minha beleza. Meu seio em outrem.

Achar. Achem o que quiserem. Não sou moderno. E amo os hinos do Bilac.

quinta-feira, junho 17, 2010

Não deixo de escrever, apenas não concluo. São frases pela metade, capítulos sozinhos de livros sem começo nem fim, pensamentos de elevador. Nego que só escrevo quando estou triste. Se só o faço por saudades, deveria fazê-lo todos os dias. É a ausência de amigo ateu, de pensamento rápido. Dos finais de semana planejados, de tanto em tão pouco tempo.

Olho no calendário e vejo os finais de semana. Acesso o mapa e tento traçar planos. Às vezes mudar paredes, em algumas ter como grande surpresa um retorno a mais. Sim. Eu me sinto mais completo, mais amado, mas além de beijos também há abraços.

Avião já não é novidade. "Vamos às instruções de segurança, mesmo se o senhor for um passageiro frequente". Eis, afinal, o ser desejado no olhar da então janela de ônibus. "Passageiro frequente". E é bom! Como é maravilhoso! Vejo nuvens e luzes e sorrio por ter sentido. Às vezes vestido de azul, às vezes não, sempre com o mesmo compromisso e fé. Azul na pele, mesmo desnudo.

E fé. A fé que faltaria nos joelhos, palavras e genuflexório. E me sobra em acreditar. Me sobra em entender. Me sobra em confiar. Confiar ao ponto de permitir até os erros para alguém.

Palavras. Palavras não exatas. Vindas tantos anos pós inventadas. Agora que não é mais a barba que diz que estou velho. É a falta dela.

Eterna presença etérea.

quinta-feira, abril 01, 2010

Confundo as roupas e as uso como não usava. Duas blusas, e às vezes é pouco. Quero casaco, quero fechar a janela antes de dormir.

O ventilador, fiz questão, era tão pouco e agora é imóvel. Em Brasília, máxima, 26 graus. Engraçado, em Fortaleza é a mínima.

Mas senti, senti saudades dessas ruas de carros velozes e sotaque que nunca é realmente daqui. Fiz de um canto de uma das caixas de sapato o que posso chamar de casa. Pus a mulher lá dentro, o carro ali na chuva e umas mil e tantas lembranças em caixas do bagageiro.

Olho o calendário e penso o ano como quem prende o ar. Dessa vez eu fico meses, semestres, podendo ir ao Iguatemi. Mas sem Pici Unifor. Podendo sentir frio ao sair do banho, mas não do mar.

segunda-feira, março 29, 2010

Vejo a vida hoje como um texto descritivo do passado.

Vejo as luzes da cidade, depois do Natal, e consigo achar lindo o Congresso com o amanhecer vindo aos poucos.

Vivo em endereço de numeral, pego o trânsito com cuidado para não amassar a roupa. Encontro-os, rio com tempo certo, deixo os dedos nos numerais pelos números da conta.

Como quem ainda não disse "Senhôra, sou eu", tenho os dias de elevador, supermercado, cotidiano de quem pra mim ainda mora longe. Por favor, obrigado.

Sou, eu mesmo, a pessoa estranha de longe.

O longe de onde já senti saudades. É, a terra tremeu. Senti tremer como nunca havia sentido antes. Com sono, com frio, com visa linda dos Andes, e um certo pensamento de que ia morrer.

A terra tremeu. E agora eu estou aqui.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Se você me perguntar o que é o amor eu vou pedir para imaginar um carro com um casal de 20 e poucos anos dentro. A estrada está ótima. Eles vão céleres. Escutam as melhores músicas que se pode escutar. Só tem os dois dentro do carro, mas toda a parte traseira está lotada. São roupas, panelas, livros, são uma mudança. Mudança para nova vida. Mudança rumo ao futuro.

Passam de 100. O asfalto é bom. Passam vários outros, lentos, e o sonho fica mais próximo. Mas aí, nesse momento, sobe um leve cheiro de óleo, vem uma luz e um barulho estranho. Pronto. É iniciada uma contagem, no meio do nada, em que cada minuto a mais de fome e de sede trazem consigo o pensamento de "onde estaríamos agora". O sol fica mais forte, e o mecânico desconfiado fala o que é péssimo de ser falado. Há fome. Há replanejamento. E há lamentáveis "e se" que já fogem ao mapa e julgam ações da última meia hora. Dos últimos dias, meses, anos. Sete anos.

Sete anos ou cento e setenta e dois quilômetros. Nenhum padre, pastor ou juiz vai perguntar "aos sete anos ou aos 178 quilômetros". É isso amor. Pra bom ou pra ruim.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Sinto o cheiro de sanduíche e sinto uma alegria incrível. É meu primeiro sanduíche em muitos, muitos, muitos meses. Um misto com requeijão nunca terá um sabor tão grande! O que já se passou desde o último?! Não falo desde o último sanduíche, pois tive muitos nos últimos tempos. Mas eles vinham em embalagens, pacotes, com nota, com "obrigado, senhor. PRÓXIMO!".

É meu primeiro sanduíche, na verdade, são meus dois primeiros sanduíches, em muitos meses. Sanduíche com gosto de pé no chão, bermuda, cabelo bagunçado e sentimento de "estou em casa".

Casa! Sim! Casa! Agora olho para as paredes azuis e sinto um pouco o que é casa. Deito na cama recém chegada e ainda convivo com os isopores, plásticos e papelão. Nem acredito: está acabando esse interlúdio da vida.

Ouço música e adoro pensar que agora posso simplesmente voltar a pensar com a paz de estar em casa. Penso na teoria que mais me inquieta: o autor morreu?! Isso me parece tão sensível quanto a quarta dimensão. Entendo pouco, não pesquiso muito as vezes, acredito que sim. Outras, acredito que não.

Mas ouço a música sobre cachorros e rio do trecho que parece meu dia a dia:

"Minha vida vai
Um ano contam sete
Rumo ao fim
Acho que ninguém tem dó de mim

Quase não me sobra tempo algum
Não conheço bem lugar nenhum
Fora do trabalho
Eu acho essa cidade
Tão ruim
Acho que ninguém tem dó de mim"

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Há um ano, minha vida se chama mudança. Um calendário inteiro de passar os dedos nos números com uma conta na cabeça. Uma ida ao Recife lembrando que foi lá que minha mãe mudou a vida dela. Chorei naquela volta de Guanabara como quem já sentia tudo o que vinha.

Eu andava de Guanabara, naquela época.

Mais duas idas, mais certezas do que viria. Corri. Suei. Comi bananada e passei muito gelo nos braços. Senti medo das minhas forças, mas era mais forte. Sorri. Sorri. Sorri e vibrei naquele centro histórico. Visitei o Bruno. E adorei vê-lo.

Voltei. Metade do caminho, até Natal, pela FAB. De lá, um ônibus diurno para minha terra. Como pensei ali. Já planejei todas as datas, até as de hoje. Meses de atencedência! E, ao chegar, vi o pai, a mãe e ela com o sorriso e o abraço que já parecem ser os de quando volto, hoje.

Toalhas, calças jeans e venda de móveis depois, tive minha última data. Corri sob o sol de meio dia em Quixadá. Angustiei-me com a certeza de que aquela era a última faxina. Transformei uma casinha de sonhos em uma casinha de saudades.

E, agora, cá estou. Um colcão, um fogão sem gás. E eu. Só eu. Por pouco tempo. Percorro as datas com o dedo no calendário. E minha conta é cada vez menor.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Estar só é como se todos tivessem morrido por um instante. A janela só mostra a árvore, as paredes não dizem nada, não há água, não nada. Mas, logo em seguida, descobre que lá onde seria sua casa há sorrisos, comida e animação. Desliga o som da música repetida e um dos vizinhos faz lembrar que sim, há vida. Há vida.

Há vida lá fora. Fora do casulo, fora do meu lugar. Fora do meu caixão?! Estar só é como estar morto por um instante. Pelo banho que não toma e o cheiro que o toma após um dia a rolar sem nada fazer. O sono intermitente que vai e vem, fazendo tudo, menos estar acordado. Menos estar de pé. Acorde! Levante! Faça algo! Nada. As roupas ficam jogadas no canto de uma parede.


Visto um casaco. Desço. Boa noite. Bom dia. Boa tarde. A quantidade de palavras vai se reduzindo e é um prazer ver a moça errar o preço do sanduíche só para ter uma frase a mais. "Não. É três e oitenta. Olha aqui". Ainda sei falar! Ainda sei o que é abrir a boca e emitir sons para alguém! Mas logo me preocupo que a padaria tão próxima e vazia não é minha casa, e não lembro quando escovei os dentes.


Como quieto. Vou embora pela portas dos fundos. Caridoso, o mendigo me cumprimenta. Elevador. Quarto andar. Abro a porta e já é noite escura. Deixo a escuridão me envolver. É agora, quem sabe. Deito sobre o plástico do colchão guardado para quando tiver vida. Preciso de um banho. Preciso arrumar minhas coisas. Preciso ver se vai dar certo a máquina de lavar naquele canto. Preciso fazer o tempo passar.

Levanto. Vi que o telefone tocou. Ainda bem. Ligo, e volto à vida. Ainda com gosto acre na boca. Ainda em putrefação do ser e de aroma das axilas. A barba crescida como quem esqueceu o dia a dia. Quanto tempo faz?! Dois dias. Só dois dias. Mas só mais alguns para pular da tumba.
Pular e dançar qualquer música sem graça. É que meu telefone tocou. E cada item da mochila, gigantesca mochila, ganharam justificativa. Ainda bem. Um avião vai me levar. Um avião vai me salvar.



sábado, janeiro 23, 2010

Há pouco, gritava Kairós. Uma bem cedo, depois do café, outra mais tarde, antes do almoço, outro um pouco depois, exatamente antes do almoço, mais uma para começar a tarde e, por fim, outra para terminar as atividades diárias. Vez por outra, algumas adicionais para sair correndo, fazer ensaio com dificuldade de alinhamento ou qualquer outra coisa a mais.

Kairós, Kairós, Kairós, Kairós... Nome grego ad infinitum.

Quando ouvi, pensei que era de tribo de índios. Até parece. Todos quase iguais, andando igual, comendo igual, falando igual, morando igual. Uma igualdade um pouco desigual, mas, no fim das contas, chegamos juntos e saímos unidos. Por pouco tempo. Tempo sem mensuração, tempo não cronológico, tempo Kairós. Como a medida de amar é amar sem medida, nosso tempo junto passou sem ser medido (apesar de todos os dias eu saber quantos dias faltavam).

Mas a turma que nós fôramos seria como o é hoje. Uns pensam em ir logo para casa. Outro pensa na conta de luz. Mais um com a cabeça na lua e um último "escama" sem conseguir parar. E o grito AZUL, que já tem até mais tempo, mas só duas vezes ao dia, ainda nem sequer saiu da garganta.

E eu quero gritar. Eu preciso. Estar de cabelo raspados e a roupa suja. Ou simplesmente ter um sentido para estar longe de casa.

Tenho-o.

domingo, janeiro 17, 2010

Meus amigos, eu preciso contar uma história que ontem aconteceu comigo e com o Tenente Rachid.

Estar trabalhando no frio, em plena madrugada, depois de um dia inteiro de trabalho não parece ser uma realização muito grande. Mas tem coisas que fazem a vida realmente valer à pena.

Estávamos na Base Aérea de Brasília, mais de 4 horas da manhã, e já havia sido feito o desembarque do caixão da Dra. Zilda Arns. Os jornalistas faziam perguntas diversas, e uma senhora tímida, de olhar triste, acompanhada de um rapaz chamou o Rachid pro canto e fez uma pergunta sobre os brasileiros repatriados pela Força Aérea.

Ele me chamou e eu cheguei como quem ia atender a uma jornalista, mas assim que eu falei os dois primeiros nomes a cidadã abriu um sorriso e demonstrou uma alegria realmente incríveis. Não era jornalista. Era família. Ela é madrasta de dois rapazes que sobreviveram ao terremoto no Haiti, uns dos poucos sobreviventes do prédio onde estavam. Já tinham notícia de que eles estavam bem, mas eu e o Rachid demos ali a certeza disso e, melhor, estavam vindo para o país.

Foi uma imensa, gigantesca, satisfação perceber tão claramente que cada nome em cada notícia é uma vida humana. E todo o esforço que a FAB e outras pessoas e instituições fazem em salvar quem mais precisa de ajuda é extremamente válido e necessário.

Fico muito feliz de poder lembrar disso por muitos anos e ter a certeza que mesmo distante da tragédia posso dar a minha contribuição. É quando o cansaço ganha sentido e a gente se sente simplesmente feliz.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Brasília me faz sentido, aos poucos. No bordado do colchão jogado no quarto ainda sem luz, no tempo calculado da caminhada do elevador de lá pro elevador de casa.

A cidade finge não ser cidade. Mas é. Ando pelo Setor Comercial Sul. Lá estão os skatistas, comerciantes, vagabundos, prostitutas, criança em busca de brinquedo, ladrões, fotocópias e salgados a R$ 1,50. Escondidos atrás de parede gigantesca. Beco da Poeira, Uruguaia, 25 de março. Perdidas aqui, tão perto mas que não aparecem no suposto cartão postal.

Fez-me sentido em leve caminhada. Daquelas de resolver a vida sem pressa, olhando os prédios que parecem se preparar para uma tragédia com plutônio ou algo assim. As calçadas brigadas com as ruas. Tomam próprio rumo, em um charme que às vezes dá em uma parede, ou nos faz andar mais.

E por aqui Kombi é loja, com algumas delas estacionadas oferecendo serviços. A terra que pouco vale fizeram-nos todos acreditar que vale muito, e é mais fácil a VW levar o serviço tão simples onde ele é necessário. É que o cachorro quente da 404 Sul está fechado. Seria quase uma esquina. Não era.

E na W3 quase acredito ser uma cidade de verdade. De lá, quem sabe, posso ver os prédios de onde o barro é sujo e dizem ter "águas claras". Ainda não vi essas águas. Vejo o céu tão carregado despejando trovões e raios como enfurecido de terem construído tanto concreto onde o não há seria a regra geral.

Chego à biblioteca. Biblioteca sem livros, mas boa biblioteca. Como numa festa de amigos, cada um leva o que quer. E sentam. E estudam. E estudam. E estudam. Alguns dormem. Infelizmente, pouco produzem. Só reproduzem. Reproduzem. Reproduzem. Reproduzem cada alínea com desejo de reproduzir os que já estão nos prédios caixotes ali perto. Salário, segurança, financiamentos, investimentos, morte. Um livro de literatura me parece melhor.

Mais ao fundo, os que estão nos pratos virados, chegaram aqui como quem pode ver o Executivo e o Judiciário pela mesma praça. Cada um ao seu tempo, trazem a reboque placas de carro de todos os lugares, expectativas de qualquer parte e a mesma vontade de seguir pelo Eixão rumo ao aeroporto. Sempre lotado aeroporto. De cada voo que vejo e digo "em breve, estarei em um".

Mas hoje eu não vou voar. Caminho até a rodoviária. Sono, cansaço e suor são iguais em qualquer lugar. Moça grávida que pede esmola e cheira à cola. Ao lado da gravata e do esvoaçante verde da saia bonita. Pastel, coxinha, produtos eletrônicos. La garantia soy jo. Filas dos apressados pelo descanso antes do cansaço do dia seguinte.

Vem vindo meu ônibus. Se eu perder, só amanhã. Subo e recosto na cadeira almofadada. Vem aí quase uma volta ao mundo. Quase. E ninguém, absolutamente ninguém, levantou o braço pedindo para nos acompanhar.

terça-feira, janeiro 12, 2010

"Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia, vêem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia – minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil; eles ergueram o espanto deles, e deixaram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério".

Clarice Lispector

quinta-feira, janeiro 07, 2010

A perna dói.

E sorrio. O riso não vem de caminhada longa, mas de corte que parecia pequeno, mas é grande, mas alegra e conforta, mas não me mata, mas mata um pouco a saudade.

Mostro os dentes ao ouvir zabumba e sanfona, assim mesmo, sem triângulo, sem ser lá minha música preferida, mas só em ser perdida, como o sertão rodeado de cerrado, me agrada. vinte e cinco centavos pela lembrança do cheiro de pau d'arco.

E a minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia. Tá, tudo bem, foi à vista, sem crediário, mas foi Casas Bahia. Com aquele bonequinho que diz "sim, eu sei, eu também não sou daqui, então vem pra cá", preço baixo e satisfação depois de anos vendo propaganda da loja que não tem em Fortaleza.

Fortaleza. Como é bom pronunciá-la em cada letra. For-ta-le-za. FOR-TA-LE-ZA. Nome do meu time. Nome da minha terra. Nome certo de encontrar no site de passagem aérea.

Nome onde hoje está tudo. Mas, como eu disse, é só a lembrança do cheiro do mato. E a minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia. Em breve vou descer dos andaimes para me atirar em braços e abraços. Mesmo que a perna fique avermelhada. Mesmo que tenha ardido um pouco na hora de tomar banho. Mesmo que doa para dar uma leve caminhada.

Toda dor é válida se vale braços e abraços.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Não há hora para morrer. Não há o que dizer ao corpo enrijecido. Não adianta falar em alguém se na mesma noite vamos dormir com a certeza daquele alguém ter ficado sob cimento. É duro. É fato. E é verdade.

É verdade que a ligação telefônica poucos minutos antes ganha força. Um capricho de petit gateaux há meses é a certeza de ter feito tudo corretamente. E aquela mão que me apertou com a força dos olhos que não piscavam enriqueceu, afinal, o último olhar.

Cheiro de flores.
Cheiro de flores.
Cheiro de flores.

E sinto saudades de quando era só colocar Los Hermanos e todos gostavam. Falta de só atravesar a rua e vê-la. Ausência de amigos ateus, com piadas inteligentes e belas frases de teorias malucas com o "La Conjugasion" na mão. Oui, je sens que plus ça change, plus c'est la même chose. Je le sens. Je te sens.

Aquele corpo frio me fez chorar a dor da partida. E me deu certeza de que aquele creme de galinha nunca mais será provado. Como nunca mais vai existir o tempo em que não havia pêlos nas pernas. Ou o tempo quando havia galos, noites, quintais e barba.
Back in US
Back in US
Back in USSR

Essa cidade é estranha. Sim. E irônica. Eis que no país de tantas praias, tantas paisagens e diversidade, muitos de todos os cantos decidem se reunir aqui, presos a serem iguais como os prédios são caixas de sapato.

E ficamos perdidos! Ficamos todos perdidos! Os que gostam da praia, percebemos, correm no asfalto de sunga e tênis. Ridículos. Não seriam tanto se o mar estivesse logo ali, mas não está.

Nos enganamos. Os prédios daquele canto me lembram a praia da infância. Naquele outro, os quase arranha céu parecem esconder um marzão entre eles. Mais para o sul, as casas fingem não ser daqui.

Não ser daqui. Poucos são. Na verdade, já a metade. Mas a outra parte que não o é tenta nomear as ruas sem nome com lembranças das terras tão distantes. Numa esquina, eis o Rio Grande do Sul. Na feira, sobe o cheiro de comida que minha avó faria.

Nas vias, avenidas e quadras, sejam elas super ou não, escorrem sotaques, costumes e placas de carro de todos os lugares. Entre concreto e asfalto, as próprias árvores também solitárias se retorcem como quem sente saudades da floresta.

E as vozes tentam se igualar como se aqui fosse um só lugar. Não é. Vejo os hipermercados um em frente ao outro e penso como deve ser difícil fazer comércio por aqui. Olho os carros parados em vagas públicas e sorrio pela ideia, e detesto a prática. Mas adoro as árvores.

Sim, senhoras e senhores, eu não sou daqui. Mas é o meu lugar. Uma cidade onde só se fala em dinheiro com o desenho de uma comuna para pensar o futuro do país. De todo um país. Toda uma nação que se encontra no aeroporto para chorar e matar as saudades de nomes de ruas, praias e temperos.