segunda-feira, outubro 31, 2011

Eu não amo mais minha mulher.

É essa a verdade. A gente pode insistir, tentar não ver os fatos, fingir que não é a gente. Mas a vida é assim.

Há tempos que o que temos não é mais uma relação de amor. Isso ficou no passado.

O que temos hoje, eu chamo de simbiose. É muito mais. Somos dois seres vivos que não podem viver separados. 

Ainda não somos um Lírio, mas já somos quase um Líquen.

Só não sei o que dizer quando ela chegar em casa. "Eu te amo" é fácil, moleza. Mas e agora?! "Eu te simbóio"?!

quinta-feira, outubro 20, 2011

Aeroporto assim. Do jeito que o diabo do atraso quer. Não é feriado nem data especial. É uma quarta à noite. Tem gente no futebol, tem gente na TV, tem gente na aula de inglês e vários outros suam na academia. Mas como ainda tem gente aqui!

Desse lado da asa as caudas são todas vermelhas. Uns só cinquenta metros à esquerda e eu iria alguns milhares de quilômetros mais longe. Où je pouvais parler un peu de français o un poquito de mi español. Não sei pra onde vai. Tem o nome Brasil escrito na turbina com o A destacado entre linhas do que sei que é um reverso.

Tento reverter meus pensamentos e querer mais uma vez um carimbo no documento que não sai da pasta de documentos. De documentos, é claro, só podia ser, coisa mais óbvia, ora mais. Quero um carimbo com gosto de lanche barato para economizar trocados de moeda de rostos estranhos que pouco fazem volume na mão mas que pagaria uma pizza inteirinha lá em casa. Com uma coca grande e entrega. E borda.

Folheei as folhas cheias de mapas e traços de linha de metrô, com nomes esbeltos terminados sempre com vogais que, eu sei, a gente não fala, muitos ês e alguns ôs. Îê Iê. Uô Uô. Vou dedilhando tabela de cifrões na espera, parece eterna, de trocar só o ensaio de bizarras tônicas por um simples e sonoro yeah de sim, eu fui, eu fiz. Foi feliz. Sorriso até com nariz.

Vou dormir tarde, mas acordar cedo. Ir andando onde há adesivos grudados que pedem aumento para quem não tem talento de ser aumentado como onde se aumenta por algo alto. Às vezes bravio. Mas eu nem posso haver adesivos nem ter o nome em lista de agraciado que não se limite ao grado. Eu quero é andar. Pra frente, de preferência.

Levo na lapela o ouro dourado, falso, é claro, do desenho ainda só desenho do jato falado para que o pessoal dos aumentos aumentados dê melhor trabalho para os das suspostas competências por ordem de chegada. Ah, Meu aviãozinho lindo! O que terá na tua janela quando for a hora de eu te ver decolar?

Eu ia escrever Hádesivos. Mas fiquei com o "Há Adesivos". A gente até meio que torce pra sumir com um A. Mas se eu não for lido é o mesmo que não ter escrito. Á Á Á.

domingo, outubro 02, 2011

O mar não é mais que água violenta. Vida e morte. Como um sangue asqueroso e grosso que gruda nas paredes das minhas veias da cabeça e do coração.

São só alguns passos da areia às pedras molhadas, à violência de uma onda, uma parte de mim quebrada. Mais rápida, mais sincera, mais correta que a pane interna.

Ossos partidos por força, não por fraqueza. Como uma consequencia da vida, e não a proximidade da morte. Pelo menos ter o céu e a praia como última vista. Melhor que uma perede branca, seja ela de onde for.

E a voz no telefone pede para mais tarde, já não mais me entende e engole sílabas como quem reduz seu tempo. E cada noite que eu consigo dormir sem ter tido suor no rosto é a minha dúvida.

Do céu ser só uma pintura branca. Ou uma imagem que vai se distorcer com meu sangue onde não devia. Como uma onda que invade a terra. E espanta pássaros, como leva embora a vida.

Et de chansons d'amour
La mer

Que meus filhos não sejam só uma permissão literária.