segunda-feira, setembro 29, 2008

É irritante o velho comentário: "O livro é melhor".

Todas as vezes que vejo um filme baseado em um livro e, geralmente, um livro bem conhecido, o debate entre "livro X filme" é de uma mediocridade notável. Com críticas tão severas ao cinema, dá vontade de dizer: "pois me dê o seu ingresso e vai ler ali no estacionamento, vai".

É óbvio que a experiência de um livro é melhor. Pra começar, a gente quase sempre lê sozinho, sem precisar fazer todo o social de ir pro cinema, quase sempre acompanhado. Ler é uma aventura que dura dias ou semanas, solitária e libertária.

Ler é ter um relacionamento íntimo com cada parágrafo. Ver um filme é sexo rápido no tempo de estada de um motel.

Cada personagem tem o rosto que o leitor quiser. A imaginação, com mais poder que as limitadas combinações de letras, dá cheiro, gosto, cor e vida. O cinema não tem cheiro, mas tem rosto. Tem sotaque. Tem uma face que estava lá, naquela outra história. Tem o som, esse sim mais irritante ainda, de quem pensa que milho estourado combina com legendas.

Mas, e daí?!

José Saramago é difícil demais para a maioria das pessoas. É longo demais para a maioria dos dias. E também é bom demais para ficar restrito somente aos que podem encher a boca, sem ninguém perguntar, que já leram o livro. E ele é bem melhor.

Mas, pelo menos, pode chegar a mais gente. E o próprio Saramago gostou, como mostra esse vídeo emocionante do diálogo entre o autor e o diretor Fernando Meireles.


Nenhum comentário: