sexta-feira, dezembro 09, 2011

Que me dera uma roupa démodé.

Fora de moda, inadequada. Um sucesso nos anos 60, ridícula, hoje. Colares grandes, bolsa colorida, má combinação de peças. Mas tudo isso embaladinho, com presente encomendado para quem tentaria me convencer que lasanha, pode sim, ter pedaços de pimentão.

Eu discutiria, eu a acharia ultrapassada, eu até riria. Já fora do alcance educador, mas ainda pleno de consideração, trocaria presentes antiquados por lembranças voltadas para a criança que já não sou mais.

Teria centenas de palavras, milhares delas. "Brega", "ultrapassada", "museu", "velha", "véia". Conviveria com uma velha como livros antigos empoeirados, mas que gostamos de vê-los na estante. Pelo menos para vê-los.

Eu traria na minha mala as peças de roupa démodé. Eu sentaria por horas para ouvir considerações com base em pensamentos de antes do meu nascimento.

Mas, de onde vim, das entranhas que eu não vi me parir, não há mais espaço para moda antiga nem de hoje. Nem palavras engraçadas, nem presentes bizarros. Não me resta a alegria de escolher sequer um livro, um filme ou o pedido "faz aquela lasanha para mim".

Minha orfandade cresce como meu medo e meu temor, ocupa o vazio da esperança deixada e, cada dia mais, deixa de ser pesadelo para se tornar tão real. E eu ainda queria só agradecer até pelos Não que recebi por muito merecer.

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