Síncope
Como foi o carnaval do ano antes de você nascer?! Escolas de samba, sol, cerveja e tua não lembrança. Morrer não deve ser difícil: quem sabe só esse vazio sem pulso e amarelado das páginas de arquivo. Cheiro de mofo.
Ninguém sentiu falta antes; então saudades vão embora com quem morre com ela. Filhos, é certo. Netos, um pouco. Depois não mais. Só história.
Mas não. Eu não morri. Os lábios ficaram roxos, a pele, branca, e as unhas, geladas. Desliguei o ar condicionado. Sentei. Pedi sal. Com um cantinho do cérebro ainda deu para pensar: vou deixar saudades se esse frio for fim?! Não. Quase nada: só uma síncope.
Rápida e fugaz. Como os faróis do carro da faixa esquerda, à nossa frente, se espremendo no acostamento de olhos fechados.
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