Tenho uma bermuda verde-limão.
Comprei como piada. Um calção de banho de inédito. Ele foi para algumas feijoadas, churrascos e aniversários. Traje básico de quem falava, falava, citava, recitava, bebia, e não sabia sequer para onde ir. Um dia, após elogio de "o Humberto sabe beber", enchi a grama de vômito e a boca de grama. O corpo no chão, a risada perdida, a lembrança pela metade e, lá longe, uma menina via. "Que decadência!". E "decadência" também era ela!
Não sabia, mas tinha conhecido dez dias antes. "Quem és tu, criatura?". Como ela odiava o boçal "quem és tu". Como ela odiava, quer dizer, odeia, o "criatura". Nem lembrei do nome um dia depois. Passou. Só mais uma interessada em frases fortes e piadas sem graça em um blog que, aquele sim, tinha muitos visitantes. Até bonitinha. Belos beiços.
Passa ano. Passa noite de sono em quadra de concreto. Sol que nasce em amigo-irmão que hoje é só conhecido. Passa, tudo passa.
Até que passou da hora daquela boate chata. Fui lá fora, encontrei outro amigo. E ela, a que me viu de bermudinha verde-limão, lá fora, enchendo o saco, ela ali, sim, bem "criatura". Perdida que nem eu, ela de um jeito, eu do outro.
Aí eu pensei, mais ou menos uns 2 meses depois: "quer saber?! Hoje eu vou ser inconseqüente! O que tiver que ser será. Eu quero é aproveitar!". Saí então feito doido, com umas gotas de perfume e 7 reais, "será que dá?", no bolso.
Passaram-se cinco anos. E agora estou em casa. Nossa casa.
Eu não bebo mais. Nem ela. A bermuda verde limão continua lá, firme e forte. E se eu quiser saber "quem és tu, criatura", eu mesmo respondo, "é minha mulher, é minha companheira". A melhor inconseqüência da minha vida. A melhor vida que eu poderia sonhar entre copos de vinho barato, frases-sinceras entre sorrisos e caminhadas sem fim.
E eu me sinto como o Jonh, no começo da carreira, sorridente e feliz.
She loves you
Yeah, yeah, yeah....
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