segunda-feira, novembro 27, 2006



Que, se não há Deus, não consigo explicar. Motivo do rosto parado, já sem sono, mas sem vontade de levantar um dedo. Só os olhos.

Que é alívio, prazer, contentação; mas pode ser dor, confusão, dor de cabeça e uma vontade danada de sumir. Não, não é sumir. Não existir. Que, se não há um Deus, pelo menos existe. E se não há nem ele nem ela, a curva ficaria apertada.

Nasce o pôr do sol e não vejo. E uma só palavra me faz um deus, ou demônio. Corpo flutuante na água salgada ou pés velozes na areia da praia. Que faz a integridade ser pó só para depois juntar cada um dos pedaços. Que dá a incompletude para ser complemento; ausência pela razão de existir.

Meu amor que é como um aspirador de pó.
E todos as demais coisas.

sábado, novembro 25, 2006

"Obladi, oblada
Life goes on, bra
La la how the life goes on
Obladi, oblada
Life goes on, bra
La la how the life goes on"

Os Beatles são foda.
E agora eu vou dormir.

"Flor nas janelas da casa
Olho no seu inimigo
Você também
Se dá um beijo dá abrigo
Se dá um riso um tiro"


Houaiss

pronome indefinido
1 a totalidade das coisas, dos seres

1.1 o total das coisas ou seres que são objeto do discurso

1.2 a totalidade das coisas (concretas ou abstratas), sem faltar nenhuma

1.2.1 todos os atributos, todas as qualidades

1.3 todas as pessoas, todo mundo; todos, o pessoal

2 o que é importante, essencial; o que de fato conta

Um tiro
Abrigo

sexta-feira, novembro 24, 2006

"Mas se você ainda quiser me matar
Mate-me logo, à tarde, às três, que à noite tenho um
compromisso
E não posso faltar por causa de você"

E não vou perder nada por você. Nem por mim.
Que preciso que mate.
À tarde. Às três.

domingo, novembro 19, 2006

Chevette velho

É tão óbvio que vou morrer num dia de domingo que já nem me atrevo a lembrar que as coisas mais importantes da minha vida acontecem nesse dia, ironicamente, a ser guardado para a igreja. Hoje eu penso muito mais em como seria esse tal domingo.


Definitivamente, não seria de ressaca. Nem longe de casa. Não será num sinal fechado, numa curva apertada, com uma turbina perdida, ou muito menos com aparelhos e sensores. Faria uma exceção para Aparelhos e senhores censores.

Mas ac
ho que vai ser um dia como... como hoje. Que são 9 horas, e o dia parece que já vai longe. Que não estive sozinho na cama, nem na risada, nem nas longas histórias, nem no mesmo copo, nem na roda de churrasco temperado de cachaça e cerveja. E nem sequer precisar beber! De não ter limpador para os vidros, e só ri do Coutinho rindo. E ter tantos outros que poderiam estar ali.

Um dia bem sóbrio. De ler o jornal, ir deixar alguém amado pela manhã, ouvir Roberto Carlos, não na voz dele, é claro. Um leite, um suco, chinela ao sol para ficar limpa. Comprar ingresso para show da banda que eu mais gosto, marcar a hora de ver a esquadrilha da fumaça. Prometendo que depois vou ler aquelas revistas.


Eu nem me a
trevo a explicar o porquê de, feito o Chico Science, ser uma criança de domingo. Que dirige com calma, mas às vezes falta uma atenção. Que é tranqüilo, mas às vezes coloca tanta coisa para fazer que não sabe se resiste aos próximos 6 dias. Mas sorri com o novo boné ganho. Fruto da criatividade: "Para quê você travaria uma guerra?". Flyboys! E azul escuro é minha cor preferida.

Eu nem me atrevo, ouso, espero, pretendo explicar porque eu vou morrer num dia como hoje. Só aviso que, se for mais ou menos assim, será numa tremenda paz. Na minha paz de chamar a metade do
mundo de filha da puta. E a outra de meu amor. De querer destruir tudo; e amar ao mesmo tempo. De não sabe passar as marchas, mas mesmo assim ter uma bela noite. De ter vertigem, mas sonhar em fazer manobras de ponta-cabeça.

Esse maravilhoso mundinho de ponta cabeça.

segunda-feira, novembro 13, 2006

"Selva
A gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é demais
Quando chega em casa do trabalho quase-vivo

Selva
A gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é o máximo
Liberdade para escolher a cor da embalagem

Nessa selva
a gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é normal
Entrar na fila, pagar ingresso, pra levar porrada

Selva
Nessa selva
a gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é demais
Um pouco de silêncio e um copo de água pura

Selva
a gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é o máximo
Se o cara mente mas tem cara de honesto

Selva
A gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é normal
Finge que não vê, diz que não foi nada
E leva mais porrada

No meio de tudo, você
me salva da selva
me salva na selva
acima de tudo, você."

(E às vezes eu acho que só pode ser mesmo feito para eu gostar)

terça-feira, novembro 07, 2006

Un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf...

Fica incompleta, incontada, incerta. Um avião que chega a menos. Pelo menos, nos nossos tempos, não se morre: um atraso de 1 hora, no meu caso, de 15 horas, do amigo que vem de nem tão longe, ou férias adiadas, no caso de outro. Mesmo assim: Um, dois, três. Até dez. Respira. Só assim para não explodir.

Biófilo.

Na mão que aperta o dedo até o doer. No suor, pele, em pêlo, teso... você. Você que chora, você que ri, você que fala, você que canta, você insegura, você que às vezes falta na foto.

E eu, que se fé for amar as árvores, o mar e as nuvens, sou santo. Que me lembro, ali, dentro do ônibus: tudo acaba um dia. Penso um pouco no que preciso fazer antes disso. Uma paisagem, uma viagem, ter saudade, serra e praia. Ao mesmo tempo. Faltar uma foto para saber o que é saudade (como numa terça-feira, 6 da manhã, à pé, sozinho e sem se perder em ruas curvas que sobem e descem, sem sono de tanto trabalho, querendo saber que horas iam limpar o Pelourinho).

Ver até mesmo a mais profunda das dores. Ver as ruas e ver sangue de tantos, de tantas peles.

Panclasta

Vontade de jogar, tirar, ir embora, explodir. Sem mortes, pelo menos. Cruzes, moedas, assinaturas, sapatos sociais. Tudo embora. Mas calma: é só uma idéia meio longe.

Eu respiro. Sorrio (a foto!). Sento. Começa mais um filme, mais uma vontade, mais uma vida interessante. Uns garotos que vivem e morrem lá no céu.

Sorria, francesa, chegou até dez.