quinta-feira, setembro 30, 2010

Ouço vozes sobre rosto cansado. O meu.
Sou avisado de olheiras. Olho-as.

Penso em sentimento, deixado de lado. Sem tempo para abraço. Falta espaço para algo. O mundo explode, deixa para lá. Tenho felicidade, tudo bem. Passa a hora do sono, não passaram os fatos.

Tenho que mudar. Tenho que viver. Mas tudo bem. Tudo bem.
Abro o PC. Abro o arquivo. Ponho os fones de ouvido. Não é música que ouço. São falas. Olho fotos que não são minhas. Lamento cuidar do som e da cor tão bem. No rosto dos outros.

No meu cai um fio de cabelo branco.

What does it matter to ya
When ya got a job to do
Ya got to do it well
You got to give the other fella hell

quarta-feira, setembro 29, 2010

Perdoe-me o escatológico. O banheiro nos ensina a felicidade.

Utilizar o vaso jamais será sinônimo de prazer. Nunca. A não ser, claro, para um ou outro doente. Mas sigamos o mundo da normalidade. Nunca o desejamos. A não ser quando precisa. Quando o elevador parece demorar, quando as escadas não têm fim e o corredor comprido demais. Nessas horas, ir ao banheiro traz sorriso, traz alívio.

O ser humano está sempre desejoso por mudanças. Mudança para melhor. Um novo carro, uma casa própria, aquele CD, uma bolsa mais bonita, o computador veloz. Mas não há nada que mais desejamos que o status quo. Estar como é.

É por isso que o banheiro ensina a felicidade. Sorrimos por nada. Nada muda ali. Saímos com os mesmos compromissos, dívidas, preocupações e prazeres. Mas sorrimos. Um riso sincero, sozinho, feliz.

Como um avião no pouso de retorno. Toca a roda mas leva quase uma hora para pôr o pé na rua. Mesmo assim, às vezes tem palmas. Cansado, a mochila mais cheia peso menos na volta.

Desejamos, queremos, lutamos por mudança. Mas nada, nada, nada, nada como conseguir a vida de volta. A vida que se gosta.

sábado, setembro 18, 2010

"Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar...."

Um texto na tela, uma conversa no fone, um vídeo na câmera, um PC a ser pronto. Toca telefone, toca telefone, toca, telefone. Dizem meu nome. Dizem meu novo nome. Pedem por meu nome.

Não sinto os pés. Desejo o fim das paredes. Desejo ter a curva como menor distância entre dois pontos. Penso no ácido jogado nos tecidos. No adiposo não corrido correndo nas veias que querem subir à testa.

Vou já voar, vou já voar. Não da janela, para o ar. Meu carimbo diz sim, sim, sim, sim.