terça-feira, dezembro 09, 2008

Primeira vez que voei, só pensava em uma música na voz de Roger Waters. A mesma plenitude de não ser vivo, de ter corpo, de não ter medo de quando li um livro num dia, cai no chão com um copo de vinho barato e, mais tarde, só com meu pai, vi um jogo de futebol.

E a vontade de nas cidades distantes descobrir o que há depois de cada prédio grande, numa busca que têm nomes e números estranhos com um sono que não se satisfaz nem se realiza. Olhar pra baixo em busca de sombra ou um copo d'água já quente por entre lençóis de ontem mal compreendidos pelos olhos vagos, vesgos e embaçados.

E sangrou, sangrou, sangrou meu avô que nunca morreria, e tinha certeza eu, agora morreria, mas já come carne e vê TV em silêncio no barulho que tanto ama. Não morre. Não morre. Não morre. E se não bebo mais, não fumo, e ando, tenho que ter medo de sangue?! Medo de carne podre servindo de viva, agonia, aquela agonia, descendo a virilha e saindo na ponta da agulha.

Agulhas, agulhas, agulhas, gosto acre na boca, suor, horas acordado, de olhos fechados, madrugada sem fim ao escutar as paredes e ver os sabores e cheiros. Por anos?!

Eleições para presidente. Novas moedas?! Desinteresse na sombra com pedaços de pano que vão embora e antes davam prazer. E antes ainda davam medo de formas disformes ou precisas como marcar a hora do último suspiro ou se trancar na geladeira vendo ferro e fogo dos céus.

Céus, céus, céus. Para onde não vou. Da vertigem, dor de cabeça de pouco ar, medo e olhos imprecisos de quem não voa. Boca seca. E um copo d´água vazio ao lado. Tantas cortinas e um telefone sem números.

Até logo, até logo. É quase hora do almoço.

sábado, novembro 08, 2008

Orkut:
"Sorte de hoje: Você é o próximo a ser promovido na sua empresa"

Álvaro de Campos:
"Merda! Sou lúcido"

E o post vai curto que o trabalho não acabou. Sábado, 16 horas e 42. O 16 do F-16 aberto à visitação a menos de 500 quilômetros de mim, mas só pelos próximos 18 minutos. O 42 do sentido de vida.

Garçom, ou sei lá quem, traz conta.
Quanto dá?! Quando dará?!

segunda-feira, novembro 03, 2008


A diferença é o que temos em comum. Nossa diferença.

Pés rápidos de um lado; música instrumental aqui; o que será, que será, por trás daquela pose e óculos quadrado que ainda ousa dizer ficar melhor em mim?! Iogurte, ou iorgute, como diríamos por aqui, ou no Piauí, aqui, ao lado do pão de queijo; refrigerante zero, um pouco de guaraná, carne moída e um chocolate, logo ali. Como será, será, será, dos que levam feijão e dois quilos de café?!

Eu não. Eu não.

Calculo o leite por dias só, seja só sem ela aqui, seja só sem ela lá. Ganhei, neste mês, de 10 a 2. No próximo, levo de goleada.Contas de centavos. Trôco do bombom e o almoço, se tão barato, não é almoço não, é lanche... Juízo!

Casa perto, casa longe; com janelas, mas sem praça. Antidesengordurante já tenho, água, nem sempre. Hora colocar água de radiador?! Não, não mais. Casar. Sim, sim, sim. Já é. E será.

E vejo leite em uma caneca só. Chocolate em pó, saudades. Futuros. Com Pouca Vogal, uma panela de queijo derretido pedindo atenção e esses sons lentos de viola rápida.

Passos lentos, já agora. Peso da leveza de uma linha tênue sem assinatura, sendo Leite só, sem sequer duas canecas para água. Tênue e forte. Como o chocolate em pó, nosso.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Esse silêncio de mais de mês.
Mês?!

Outubro, de tantas alegrias, tantas tristezas, tanta vida e tanta morte.

Vá embora!

segunda-feira, setembro 29, 2008

É irritante o velho comentário: "O livro é melhor".

Todas as vezes que vejo um filme baseado em um livro e, geralmente, um livro bem conhecido, o debate entre "livro X filme" é de uma mediocridade notável. Com críticas tão severas ao cinema, dá vontade de dizer: "pois me dê o seu ingresso e vai ler ali no estacionamento, vai".

É óbvio que a experiência de um livro é melhor. Pra começar, a gente quase sempre lê sozinho, sem precisar fazer todo o social de ir pro cinema, quase sempre acompanhado. Ler é uma aventura que dura dias ou semanas, solitária e libertária.

Ler é ter um relacionamento íntimo com cada parágrafo. Ver um filme é sexo rápido no tempo de estada de um motel.

Cada personagem tem o rosto que o leitor quiser. A imaginação, com mais poder que as limitadas combinações de letras, dá cheiro, gosto, cor e vida. O cinema não tem cheiro, mas tem rosto. Tem sotaque. Tem uma face que estava lá, naquela outra história. Tem o som, esse sim mais irritante ainda, de quem pensa que milho estourado combina com legendas.

Mas, e daí?!

José Saramago é difícil demais para a maioria das pessoas. É longo demais para a maioria dos dias. E também é bom demais para ficar restrito somente aos que podem encher a boca, sem ninguém perguntar, que já leram o livro. E ele é bem melhor.

Mas, pelo menos, pode chegar a mais gente. E o próprio Saramago gostou, como mostra esse vídeo emocionante do diálogo entre o autor e o diretor Fernando Meireles.


sexta-feira, setembro 12, 2008

Sonhos implacáveis de suor para lágrimas. E esta preguiça, de agora, que me permite - no máximo - o mais burocrático e fácil.

Vontade do sabor dos outros. E essa receita, aqui na cabeça, com ingredientes e fazeres para meus próprios pratos entre as mesmas paredes.

Certo plano de blusa preta, calça preta e tênis de cor, feito fazer o tipo que essa barba é nova, com olhos nos horários e sem hora pela chave do no bolso. Mas ela é uma só, os relógios são decorados e a única a se impressionar do cabelo e do calçado tem minha cama como certa.

Das vontades de agradar e agradar-se; dos risos e sorrisos planejados ou eleitorais; falta água, fico fora - culpa da única chave. E antes que ouse falar de perfeito, sinto o cheiro real do nosso sabor. Agridoce.

sábado, setembro 06, 2008

Se o se for é.
Se teu se for teu.
Se o meu talvez seja daqui a pouco.

Caminhos diferentes para a mesma cidade.
Velocidade de cruzeiro e ônibus no sertão.

Dois no carro. Pratos e panelas também.

sábado, agosto 30, 2008

Glicerina.
Sim. Eu aceito.

A vós jogo toda glicerina que passou pelo couro acima da cabeça. À vós os cabelos que um dia foram cuidados, um dia descuidados, e que hoje sonho em cuidar de novo. Tanto faz, agora. Sim, meus senhores, os pêlos acima e abaixo da boca; como o suor acima da vida debaixo de qualquer tic-tac de cronômetro em corrida em voltas.

Mais que glicerina. Bem mais que glicerina. Em troca, basta, tão somente, e tão unicamente, repassarem-me essas asas de galinha.

Não fazem voar por si. Mas já dava para sorrir entre aquelas aves de olhos mais retos.

E até.

quarta-feira, agosto 27, 2008

O cantor canta em língua estranha, mas eles só pedem "forró", "forró", "forró". Não é forró, é música mal cantada, lembra a de língua estranha, mas feita para só bocas e curvas.

E lá na rua, aqui na rua, automóveis, tão velozes, queimam. Imóveis. A fumaça sobe entre as linhas mal pintadas, no chão escuro e nos buracos maus, mal tapados quando longe do muro de vermelho e números. Mesmos números dos sorrisos de estúdio e frases decoradas.

Tudo feito de palavras. Uma ou duas; não dizem nada, mas sabem o que pedem. Pedem os dedos, ver a foto e barulhinho. Pronto. Quatro anos para duas ou três palavras se desfazerem.
Volto aos nomes em letra maiúscula com um ano em seguida. A régua com manchas azuis que não desenha, sublinha. Entre Rousseau e a Rússia pós-moderna, pensar em como entender aqueles outros nomes que ainda não conheci, misturar um pouquinho com os que eu sei, e sair algo interessante. Interessante para o professor que ninguém vê. Meus colegas de todos os lugares e currículos incríveis.

Eu, estudante da UFMG.
Eu, entre as horas sentado com pontos em negro na agenda; ousando ter pontos azuis de compromissos em que faço meu horário. Eu, entre antidesengordurante e sabores de amores de mais cedo, com o pensamento em opressivas instituições democráticas de muita liberdade.

E o eu, sonhador, decidindo sonhar em se sentir um estrangeiro. Mesmo que um estranho só de sotaque. Mas entre o sonho de nudez e o sonho de uniforme.

Sentido, sim, senhor.
Não faz sentido, não senhor.
Senhor.

sexta-feira, agosto 01, 2008

O nome dela era Letícia. Correia Rodrigues, acho.

Cresceu com uma marca estranha, na bunda. Não lembra como foi, nem sequer chorou: ao som da faca e cor de sangue, só tombou mais forte entre os peitos da mãe. Essa outra, tão acostumada a ver vida crescer entre pernas de partos, via morte na pequena terra da família. Foram os dois cabras que cuidavam das cabeças e do pasto, foi-se a pouca riqueza praqueles homens de chapéu de cangaço.

Lá longe, bem longe, lá pras terras de muito mato, muita água e muito trabalho, a outra que não sei o nome, mas diz-se ter Leite ao fim, lavava roupa em um tanque maior que o Rio Nilo. Pobre dela. Como conta da lavanderia, perdeu um filho que nem sequer se decompôs em terra. Deglutido.

Relato lúcido do último ano de lucidez da mãe da minha mãe, entre promoção de Fiesta 97 0 Km e resultados de exames com vista para a escada do Center Um.
História do pai do meu pai. Das barbas incompletas bem antes que sujas de graxa e chinelas sem conceito de propriedade privada.

E eu, bisneto do irmão do devorado pela cobra, sobrinho-neto da esfaqueada por cangaceiro, criado com leite de salas de aula e motores batidos de Fuscas e Opalas, sorrio com a aprovação do Departamento de Ciências Políticas. E, por si só, isso me faz otimista.
Um mês sem textos.
31 dias sem sequer uma vírgula.

É o fim?! Apatia?! Falta vida?!

Nada. Nada. Nada. Nada disso.

Pelo contrário. É o tudo, é o plano, é o casulo.
Eu e minha apostasia.

Leite entre dentes no achocolatado de manhã cedo. Copo de água antes de dormir.

Minha apostasia em sorriso, em raiva, em ira, em felicidade.
Felicidade. Cada suspiro uma negação da certeza infalível.

E essa apostasia! Essa apostasia, cada vez mais definitiva, em cada passada sob o viaduto e sobre as dunas.

Pôr do sol.
Pedaço de pizza.

domingo, junho 29, 2008

Faz três semanas que esses pêlos crescem na cara. Totalmente impunes. Vão tomando meu rosto e escondendo o menino que ainda insiste em existir.

Aí ele pensa em querer sair para andar de bicicleta, lutar contra nazistas só com o mouse e o teclado, pular onda no mar. Não, menino, não pode. Vai tirar esses pêlos do rosto e saber quanto deu a conta de luz.

Tem e-mails para ler. Tem aqueles planos maravilhosos para colocar em prática. Tem que planejar o futuro. Tem que acreditar. Mesmo se for muito difícil, tem que acreditar.

Hoje eu já tenho litros de antidesengordurante. E uma fé ainda maior em Le Bourget.

sexta-feira, junho 13, 2008



Nós, náufragos

Treze de junho de 1983. Há exatos 25 anos, a humanidade foi além de qualquer limite antes conhecido. Naquele dia, um objeto construído pelo homem cruzava as fronteiras do Sistema de Solar pela primeira vez. Em tempos de Guerra Fria, quando uma hecatombe nuclear poderia acontecer a qualquer momento, foi um dia de esperança. Hoje, com o medo do aquecimento global, há quem ainda espere algum sinal positivo vindo do espaço.

Lançada onze anos antes para investigar o planeta Júpiter, a sonda espacial Pionner 10 começava sua segunda missão: enviar um recado da humanidade para alguma civilização extra-terrestre desconhecida. Mais ou menos como uma garrafa jogada ao mar por um náufrago.

A idéia surgiu quando a NASA percebeu que a nave poderia ir bem além de Plutão e, depois disso, seguir eternamente rumo ao infinito. Foi quando os cientistas Frank Drake, Eric Burgess e Carl Sagan, mais tarde conhecido pelo romance "Contato" e o vídeo "Pálido Ponto Azul", apresentaram a idéia. Uma placa de ouro seria afixada na antena da sonda espacial, protegida da poeira cósmica e da radiação, contendo uma mensagem de "nós estamos aqui".

Mas o que escrever para os extra-terrestres?! E como? Carl foi para casa e pensou que o melhor era fazer isso com sua esposa, Linda. Juntos, eles desenharam o que julgaram ser mais importante: um homem e uma mulher nus, em escala com as dimensões da Pionner; a localização da Terra no sistema solar e do Sol na galáxia; e uma molécula de hidrogênio, o elemento mais abundante no universo. Teoricamente, qualquer civilização inteligente entenderia o recado.

Ao que se sabe, a placa nunca foi encontrada por ninguém. A Pionner 10 manteve contato com a Terra até 23 de janeiro de 2003, quando estava a 12 bilhões de quilômetros de distância e suas baterias finalmente descarregaram. Aparentemente, nada de estranho havia acontecido. No máximo, virou um bom roteiro para filmes e games de ficção científica.

Mas a NASA também gostou da idéia. Em 1973, a Pionner 11 levou uma placa semelhante para outra missão fora do Sistema Solar. Cinco anos depois, as sondas Voyager 1 e Voyager 2 rumaram para as galáxias vizinhas com novas mensagens eventuais extra-terrestres.

Dessa vez, um disco fonográfico de cobre e ouro levava vários sons da terra. Em 90 minutos de gravação, mais tarde lançados aqui mesmo, em CD, foi feita uma seleção completa de sons como o canto dos pássaros, trovões, chuva, onda, vento, canto de baleias, músicas de diversas culturas, incluindo "Jonnhy B. Good", de Chuck Barry, e saudações em 55 línguas, entre elas o português.

Cento e quinze imagens também foram analogicamente gravadas nos discos. Mas o ser humano foi incluído só de silhueta. O problema é que, na dúvida sobre nossas mensagens serem ou não achadas por alguma civilização, os protestos na Terra foram grandes. Por conta do desenho do homem e da mulher nús, grupos conservadores acusaram os cientistas de mandarem "obscenidades" para o espaço.

O disco também ficou sem a música "Here Comes The Sun". Os Beatles gostaram da idéia. Já a gravadora EMI não gostou nem um pouco. Eles não queriam permitir que uma música fosse tocada sem que fossem pagos os direitos autorais. Nem mesmo a bilhões de quilômetros da rádio mais próxima...

quarta-feira, junho 04, 2008

Imagino quantos viram aqueles prédios, como eu vi, mas sem saber direito em qual quarto dormiriam na semana seguinte. Monstros de ferro, concreto e vidro a engolir milhões de vidas com o sonho de asfalto e cifras.

Mesmo que cifras só para o feijão e a vontade de voltar.

Teria eu, também, este sonho de falar como falo e ser acusado de sotaque arrastado?! Tirar uma lasquinha de tanto cinza, enfrentar o frio e perder-se entre o ônibus e o jantar?!

Em um metrô debaixo da terra, em avenidas anônimas, em querer tirar foto onde é só mais uma esquina pra quem passa ao lado. Impressionado com o preço de tudo, com o tanto de revistas na banca, as possibilidades, as possibilidades.

Não há concreto. Não há vidro. Não há asfalto. Não há sequer só aquele cinza sem fim no céu. São Paulo pulsa saudades nos buracos daqueles trilhos escuros, sem sequer sinal de celular.

Algo aconteceu.

Algodão no nariz, medo, lágrimas. Dizem que ele teria saudades, mas que não gostaria de nada. Só uma dor pela dor dela, e um lamento pelo será.

Seis mãos na peça de madeira barata, para virar pó, quem sabe. Palavras pouco importariam. O ouvido não escutava mais. A boca não falaria mais. O nariz, só um enfeite de face fria e fechada.

Lembranças, lembranças e uma ironia. Como poderia ser, logo assim?! Nome entre uma lista onde tanto sonhou estar, mas que tivesse início e fim. E o presente para eles mesmos, ainda tão novo, uma boa dica de que pedaço era aquele.

Nada aconteceu.

E, só depois do pouso, descobri que tive medo de avião. E não foi por mim.

quarta-feira, maio 21, 2008


Ok, vamos fazer um acordo.

Eu esqueço que o Goolge Analytics desse blog mais parece um ECG de um zumbi, e vocês fingem que eu tenho cabelo grande, uma barba um pouco mais espessa e ainda estou me encontrando.

É que eu pulso como quem pulsa pela primeira vez. Falo palavras de amor como confissões assinadas de supetão ao relento do horizonte perto. Corro quarteirões ao ritmo da fome que se desfaz ao sorriso e ao olá.

E filme de domingo a noite vira trilha sonora da semana, vontade de gostar até não poder mais e ficar na cama. Na cama. Na cama. Como que em coma. Sem querer acordar de um acordado tão bom.

Voz doce e baixa; ou alta para ser ouvida no banheiro. Eis meu grito e canto. Abraço rápido de meio-dia corrido; ou carinhoso de meia-noite sonolenta. Eis minha dança.

Mesmo sem cabelo grande, nem barba, nem grandes descobertas; esse dia-a-dia como quem descreve o que é ser feliz.

(À propósito: achei minha antiga cabeleleira. E continuo ouvindo she loves you, yeah, yeah, yeah...)

Um rato. Um cano. Um rabo.
Um intestino a ser comido.
Tortura.

Ideal. Possível. Sonhos.

A serem sonhados.

Ventura.

Bandeiras queimam.
Lágrimas marcham. Tropas escorrem.
Até ter sido sonho demais.
Pra ter sido verdade.



quinta-feira, maio 01, 2008

Amanhã era pra ser domingo.

Só mais um domingo. Um domingo vazio. De manhã sem sentido. Desde que o Senna se foi, domingo não é mais domingo.

Domingo de tarde de melancolia. Tarde vazia como batida em um poste. Noite sem notícias e tristeza por anos. Desde que o Chico se foi que domingo não tem mais cara de domingo.


Mais um daqueles dias que na hora do almoço eu lembro quando um frango e uma coca-cola de 1 litro dava para muita gente. Frango, não, galinha. Galinha com cheiro de quintal da vovó e caminho para o Veneza Tropical.

E desde que meu avô morreu, numa noite de domingo, que a segunda parece um porto seguro.

Vou morrer em um dia de domingo. Não sei se como criança de domingo. Se como velhinho com sondas, memórias e mãos-filhas em volta. Ou herói que dá sentido até em dia sem trabalho.

Tenho uma bermuda verde-limão.

Comprei como piada. Um calção de banho de inédito. Ele foi para algumas feijoadas, churrascos e aniversários. Traje básico de quem falava, falava, citava, recitava, bebia, e não sabia sequer para onde ir. Um dia, após elogio de "o Humberto sabe beber", enchi a grama de vômito e a boca de grama. O corpo no chão, a risada perdida, a lembrança pela metade e, lá longe, uma menina via. "Que decadência!". E "decadência" também era ela!

Não sabia, mas tinha conhecido dez dias antes. "Quem és tu, criatura?". Como ela odiava o boçal "quem és tu". Como ela odiava, quer dizer, odeia, o "criatura". Nem lembrei do nome um dia depois. Passou. Só mais uma interessada em frases fortes e piadas sem graça em um blog que, aquele sim, tinha muitos visitantes. Até bonitinha. Belos beiços.

Passa ano. Passa noite de sono em quadra de concreto. Sol que nasce em amigo-irmão que hoje é só conhecido. Passa, tudo passa.

Até que passou da hora daquela boate chata. Fui lá fora, encontrei outro amigo. E ela, a que me viu de bermudinha verde-limão, lá fora, enchendo o saco, ela ali, sim, bem "criatura". Perdida que nem eu, ela de um jeito, eu do outro.

Aí eu pensei, mais ou menos uns 2 meses depois: "quer saber?! Hoje eu vou ser inconseqüente! O que tiver que ser será. Eu quero é aproveitar!". Saí então feito doido, com umas gotas de perfume e 7 reais, "será que dá?", no bolso.

Passaram-se cinco anos. E agora estou em casa. Nossa casa.

Eu não bebo mais. Nem ela. A bermuda verde limão continua lá, firme e forte. E se eu quiser saber "quem és tu, criatura", eu mesmo respondo, "é minha mulher, é minha companheira". A melhor inconseqüência da minha vida. A melhor vida que eu poderia sonhar entre copos de vinho barato, frases-sinceras entre sorrisos e caminhadas sem fim.

E eu me sinto como o Jonh, no começo da carreira, sorridente e feliz.

She loves you
Yeah, yeah, yeah....

quinta-feira, abril 17, 2008

Ela diria que o "autor" morreu.

Morrer, eu não morri. Na verdade, nunca estive tão vivo. Mas se tem alguma coisa moderna, pós moderna, modernista e contemporânea, ao mesmo tudo, tudo ao mesmo tempo, agora, é escrever e ser interpretado. Livremente.

E o autor não morre. Torna-se imortal. Nem que seja para minha única comentarista. Que de comentário, vira post.

ariadnecoelho disse...
da boa surpresa da promoção da tábua que rendeu banquinhos perfeitos, que nos lembram anos 70 e muito mais.

da singela surpresa, penduradas palavras por palavras exatas, com prendedores verdes...resultado lindo e mais fofo do mundo.
e não era só isso.

a fada das roupas agora tem companhia.
elfo das roupas e do "leite da manhã".
"vem cá meu bem, que é bom te ver"
os dias andam e andam, e eu só quero fazer "tudo por você".

e obrigada por fazer tudo por mim...
meu eterno inseparável tudão com refil infinito.
meu companheiro!
amo-te.

em verde e roxo e em todas as cores que a gente quiser combinar.
de tua namorada em caixa alta e garrafal
passo a tua esposa,
grifado na "aquarela".
beijos!

5:53 PM

quarta-feira, abril 09, 2008

10 anos ou mais, em menos de um mês.

De ser só um, por desabrochar, a realizar, por planejar, por se realizar...

Realizado.

De colchão velho com dor nas costas e saudades, companhia todas as noites e copo de leite divido na manhã seguinte. Geladeira que se pinta, oba, a máquina de lavar lava, o Guarda-Roupa coube, o chão tá limpo e a Tv televisiona. Contas, contas, contas, e o resultado final de dormir feliz.

Hoje faltou água. Ontem ligamos a máquina. Amanhã comprar mais presunto e nos próximos meses, pelo visto, ter moedas contadas mas um sorriso como nunca se teve. Prateleiras, gás, mais pano de chão. Um tapete.

Ouro em um dedo e os melhores planos do mundo. A começar pelo primeiro. O primeiro litro de anti-desengordurante.

Aos 23. Quem diria? Agora eu digo. E disse sim.

"Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som

Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço

Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um p'ro outro:
- Estou com sono, vamos dormir!

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você

Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor
"

sábado, março 29, 2008

Tem sangue por todo canto. As mãos estão cansadas, a cabeça dói e os golpes foram até o limite.

Daqui a pouco, vão parecer muito pouco.

Na tela, a contagem de pontos. Tantos mil porque acabamos de matar o "chefão". Só mais um de tantos outros que vêm por aí.

É nova fase. E o jogo, bem longe de ser finalizado, dá é uma vontade de ir na cozinha, pegar um copo de água, e encarar o que vem por aí.

Com um sorriso no rosto sem nem saber direito quem é o Player 1 ou o 2...

terça-feira, março 18, 2008

É uma calculadora na cabeça, que esquece os números e, que alegria, pensa em dias, torcendo pelo botão de subtrair.

É um calendário em que cada tracinho são 20 anos ou mais de juízo e, que alegria, de contagem regressiva.

É também um coração apertado que pensa em hora não como as 12 do meio dia à meia noite, mas se é a hora. Se é tristeza?! Não, não é, talvez um pouco de medo. Sentimentos estranhos.

Mas como não ser estranho se são tantas coisas novas?!

Te trago as boas novas: é fim, é começo. É momento.

segunda-feira, março 10, 2008

A palavra "Preso" já não parece ser coisa muito boa.

Se no passado me remetia à "Medo", hoje penso muito mais em uma quentinha, já fria, com duas salsichas, um arroz "unidos venceremos" e um feijão que me faria chamar o gerente. Também lembro que alguns dormem no banheiro e, claro, a clara idéia de uma jaula, sem liberdade.

Perdido entre os dedos, já seria uma outra história. Pode ser um cravo - aqueles bem feios, de rosto - saindo da pele entre sangue e pus, como um parto desgraçado de quem terá martírio final num algodão, fundo do ralo da pia. Ou como os deuses mitológicos fariam com os mortais, mudando destinos jogando baralho enquanto vêem TV.

Daí vem a mitologia, vem a língua grega, vem o latim, vem a idéia de que eu posso estar preso entre dedos. Dedos não muito fortes, certamente, nem tão certos. E com virtudes. Virtudes que não cabem aqui explicar, descrever ou definir tão bem: de novidades, tornaram-se nervos.

Não de nervos à flor da pele. Tá, às vezes sim. Mas na maior parte do tempo, como a respiração, como o pulsar do peito que é, de verdade, de verdade, o que faz a gente vivo, e não por causa disso, precisa de palavras, dias ou noites. Não precisam ser grades, mas como minha altura, meu peso, o chão debaixo do pé, a ponta do fio de cada cabelo.

"You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger?
Do you have to, do you have to"



Constante.

É incrível que por tantos anos o nome “constante” tenha sido o desafio do X entre números e um segredo de equação descoberto só ao final do livro. Esquecendo-se de sua “constância”, torna-se instável, inexato, difícil.

Mas não. Porque nos fizeram acreditar que “constante” precisa ser como um segredo?! Ou ainda, porque o papo-física, papo-matemática, wormhole, mc² são conversa de tarde de terça-feira, e não de sábado?!

Com bons roteiristas, física faz sentido até em noite de domingo.

Mais de dez anos depois, consigo, finalmente, encontrar algo que uniu meu lado abandonado, o do físico maluco de 1° lugar na Feira de Ciências de todo o Colégio, ainda na sétima série, com o de hoje, ciências humanas, barba por fazer, questionamentos sobre amor¸ vida e inconstâncias.

Como as repostas não estariam na Constante?!

Quem seria minha constante, brotha?

sábado, março 01, 2008

Até quem me vê, contando os vales, na fila do macarrão, sabe que eu te encontrei. E ninguém dirá que é tarde demais.

Afinal, ainda sou um menino. De barba mal feita e uma filosofia para o dia: se um vegetariano vira zumbi, o que ele faz?!

Então o amigo próximo senta bem distante no ônibus, eu ligo, e nada, perco o lugar, e ganho a noite. Sou sortudo?! Sou amaldiçado?! -Sortudo, acho. É, eu também acho.

E pronto. Hoje já é sábado.

"We'll share the shelter of my single bed..."

O acaso criou o mundo. O mundo criou o homem.
O homem criou deus. Um homem matou deus.
Depois, morreu.

Daí veio o Google. E vem, dia após dia, dizer minha "Sorte de Hoje".

Disse que eu ganharia roupas novas (!!!!): mentira! No máximo, tirei do armário sapato, gravata, calça "fina" e uma pequena agonia de se perguntar: vai dar certo?! Será que vou pronunciar direitinho?! Será que eles vão gostar?!

Pelo visto, deu. E ao invés de pensar nos absurdos do universo, o sentido da vida, e tudo mais; volto para casa com uma voz agradável no ouvido, sanduiche na barriga e vontade de lençois.

Amém, meus ateus

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

"We're just two lost souls swimming in a fish bowl,
year after year,
Running over the same old ground.
What have you found?
The same old fears.

Wish you were here."

(E o "agora", aos poucos, é cada vez mais "memória")

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Queijo Coalho.

Nunca fiz muita questão de queijo coalho. É gostoso, no baião, com carne de sol, ou frito na chapa. Mas é que é mais ou menos como se o pão do sanduíche da lanchonete tem gergelim ou não. Se tiver, beleza, bonitinho, -obrigado, deve fazer bem. Se não, eu nem sinto falta.

Sentir faltar. Eis a questão. Dos oito ingredientes a serem escolhidos para acompanhar o macarrão maravilhoso, com molho branco e no azeite, -por favor, eu não podia pedir queijo coalho. Já tinha até visto no papel: -Olha, aqui não tem queijo coalho. Mas nada!

-Quais os ingredientes, senhor?!
-Queijo coalho!
-Infelizmente não temos. Quais seriam, então?!

Pedi queijo coalho. Que estranho! E, mais tarde e tantos quilômetros depois, onde sumiu o chiado e surgiu a letra E com acento circunflexo dita com todo cuidado, ê ê ê, polenta frita se tornou só uma experiência comparativa com sua prima distante, aquela tal de macaxeira.

Ainda fico com pizza. Que presta, até longe. Mais longe que o Sendas. Mais longe que os Mercadoramas escondidos atrás dos shoppings. Terras tão distantes que fazem o "Nordestão", mesmo sem ser o Extra da Parangaba, ter cheiro de casa.

Eu explico porque ainda prefiro pizza. Se já era longe, ficou mais ainda depois daquela ponte-caos, onde "ser daqui" já não era sinônimo de "Fortaleza", e sim, simplesmente, de ter Reais, quem diria, valorizadíssimos, nos bolsos. Naquela terra onde a gente pára e duvida até da autenticidade do ar que respira, e "Americanas" não é "Lojas Americanas", e sim "Casa Americana". Ali, por sorte, um pedaço de pizza, com preço em Guarany, até que foi uma boa pedida.

Eu vi o Museu Aeroespacial, vi o Pão de Açúcar, vi um lindo Jardim Botânico, quer dizer, dois, vi um bela cidade num mar de morros tão próximo do mar de água, compri promessa de levar até o telefone onde antes tive saudade, vi passeio de trem, vi casa do Rei. Também vi a beleza de gigantescas cataratas naturais e a beleza do concreto de uma gigante com cachoeiras que dão luz.

Mas na redação “Minhas Férias” deste ano, eu queria dizer que o que eu aprendi foi que se eu estou em casa, eu quero queijo coalho. Mas se eu estiver longe, até depois das placas de carro serem como eu conheço, pizza é a solução. Sempre gostosa, com queijo, umas calabresas e HumMMmMmmm.... Orégano!

terça-feira, janeiro 15, 2008

Porta fechada, quarto escuro. Era tempo de ter vontade de ter olho nas costas, luz acesa sem interromper o sono, janela aberta... Ou melhor fechada?! Teria medo de um leve toque na ponta do pé debaixo do lençol, uma voz, uma luz, qualquer coisa. Uma Criatura?! Eu riria.

Temor, hoje, é uma bola de pêlos cheia de dentes e frases engraçadas que imito. Alma (alma, não: fantasma. Se é nossa conhecida, é alma. Se é dos outros, é assombração), ET, monstro, sei lá o quê.

Fica o medo de ladrão, de seringa, de seringa (mais uma vez, pra dar ênfase), colesterol, juros, cartão de crédito e crediário. Febre amarela, bêbado e manutenção precária também.

Então antes que o amor seja só nos tempos em que passar a cólera, eu abraço o sobrinho, a mulher e falo de um dia a filha. Medos vão, medos vêm: mas um quarto escuro continua sendo a melhor coisa de ter ficado grande.

Criaturas, criaturas...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Síncope

Como foi o carnaval do ano antes de você nascer?! Escolas de samba, sol, cerveja e tua não lembrança. Morrer não deve ser difícil: quem sabe só esse vazio sem pulso e amarelado das páginas de arquivo. Cheiro de mofo.

Ninguém sentiu falta antes; então saudades vão embora com quem morre com ela. Filhos, é certo. Netos, um pouco. Depois não mais. Só história.

Mas não. Eu não morri. Os lábios ficaram roxos, a pele, branca, e as unhas, geladas. Desliguei o ar condicionado. Sentei. Pedi sal. Com um cantinho do cérebro ainda deu para pensar: vou deixar saudades se esse frio for fim?! Não. Quase nada: só uma síncope.

Rápida e fugaz. Como os faróis do carro da faixa esquerda, à nossa frente, se espremendo no acostamento de olhos fechados.

Tenho fome.

Fome de dia 20, dia distante que nem sequer ficava nesse calendário. Agora era ano passado

Tenho fome de hamburguer sem óleo e macaxeira. Suco de goiaba. Talco nos meus pés e pé de cabra para o lençol. Aguardo a fome dos livros lidos nos dias ainda não passados. Aqueles dias sem sono depois do dia 20.

Calma. Sexta-feira eu entro de férias.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Se envelheci ou não dez anos ou mais neste último mês, não sei.

É certo que este blog recebe agora palavras tão perdidas no tempo quanto as árvores de Natal em janeiro. E que, se for verdade que amar é trilhar caminhos juntos, mais de 5.000 quilômetros de asfalto em menos de 30 dias me faz um felizardo.

E tão ou não semanticamente direto, escreveria sobre os três discos mais importantes do ano. Ou de um show que me fez menino de novo. Da Asa Branca no mato queimado do sertão sem fim, do Natal de árvore de rede, da folga de um dia não fazer nada, absolutamente nada. Nem sequer escrevi.

Fiz foi olhar para a janela, tomar banho de mar, prender a respiração e ver o horizonte do pôr do sol em tanto canto diferente. Com uma mão sob e sobre a minha, em silêncio e sem escrita, como a roupa bonita e o perfume escolhidos à dedo para nem sequer abrir uma porta.

Aqui ou em qualquer lugar.