quinta-feira, junho 30, 2011

É inevitável
É inevitável
É inevitável

Não ver um fim só é possível com o próprio fim. E eu fui preparado para tal. É inevitável. Se eu já sabia, por que incomoda assim?

segunda-feira, junho 27, 2011

Me sinto como que alçado a um futuro distante rápido demais. Olho os homens de barba e as mulheres de calças sérias e imagino como eram há 10, 15 anos.

Pago minhas contas, uso anel na mão esquerda, planejo paredes e possuo rodas. Mas, sinceramente, não me sinto ainda como quem já terminou o colégio. Não mesmo.

Parece que, como quem desperta de um sono, eu vou voltar a qualquer momento para esperar o carro às 17 horas e ir para casa. Alguns tarefas a fazer e o desafio de no dia seguinte ir de perfume em busca de algum sucesso.

Torcer pelas terças e quintas por ser dia diferente, e planejar almoçar bem para conseguir guardar dinheiro. A meta é ter 8 reais por semana. Em um mês, faria mais de 30. Já o suficiente para ir ao cinema no horário mais barato, com lanche e passagem.

Penso em ainda pensar as escolhas para depois do terceiro ano. Puder mudar a vida inteira dependendo do último livro. Um dia, professor. No outro, ainda piloto. Mais um, arquiteto.

Esperar o fim de novembro por dois meses sem nada. E, hoje, imaginar que a vida poderia ir além de acordar tarde. Queria aqueles dois meses, agora. Iria a muitos lugares. Faria muitas coisas. Aprenderia outras tantas. E ainda tinha todas as manhãs. Todas.

Fazia planos simples. Tão simples quanto roteiros de filmes ruins. Na semana, esperava o pão do fim do dia e olhava com certa alegria para a lata velha que às vezes só tinha uma só opção de biscoito. Aos domingos, soltava sorriso aberto ao ver minha mãe meter cheiro verde no macarrão.

Minha mãe. Que não sei de onde tirava forças para roupas de cinco em litros de água, quilos de sabão e somente a força dos próprios braços. E trabalhava. E cozinhava. E limpava. E pagava as contas. E ensinava. E inventava.

Inventava que um ônibus que até passava pelo Centro e ia para uma praia pouco badalada podia ser um dia agradável. E convencia. E deixava o almoço já preparado a espera. E. se contava as moedas, não me fazia perceber. E eu sorria.

Sinto uma expectativa, esperança até, que isso tudo é só uma história muito criativa para minhas peças de Lego jogadas no chão em uma ordem e roteiro impossíveis para outros meninos bobos. Sim, eu elaborava detalhes que envolviam até cartão de crédito e partidos políticos.

É só eu conseguir fechar um pouco mais os olhos que os gemidos de dor que eu ouço agora vão se revelar só meus fantasmas de quando ficava só entre as 17h50 e 19h00. Daqui a pouco eu vou ouvir da casa ao lado que já começou Perigosas Peruas e vou guardar cada pedacinha no saco de supermercado.

Vou deixar tudo dentro do meu guarda-roupa e esperar para abrir o portão. O Del Rey vai sujar o azulejo branco do chão com um pouco de terra. Vão me dizer que já passaram na Padaria e que só demoraram um pouco mais porque os meninos tiveram quinta aula.

Eu só estou angustiado assim porque hoje é noite de terça e acabei brincando mais que deveria. Não fiz minha tarefa de casa. Não cumpri o que eu mesmo aguardava.

quinta-feira, junho 23, 2011

Uno Uno Romeu. É de onde parto. Dessa vez, para onde tão bem conhecia. Vou sobrevoar a Lagoa, passar ao lado do Pici, ver a Parangaba se tornar maior. Vou pousar e sentir o ar quente do avião.

Mas viajo tenso. Viajo de preto. Viajo no alívio de não precisar acordar mais todos os dias com medo de ser como um personagem do Camus. Não receberei telegrama. Talvez eu veja. Talvez esteja presente. Talvez só me espere para ir.

Olho para o meu dedo e vejo uma aliança. Olho no espelho e vejo que, mesmo tirada todos os dias, há uma barba ali. O rosto já não é mais jovem, e já não sou criança. E quem eu via como adulto, ficou velho.

Se voltasse no tempo e contasse quantos anos eu ainda a teria, talvez desse um desespero. Há dez, conquista era guardar 20 reais. Há cinco, ainda perdido, ainda sem certezas de futuro. Há tão poucos, ainda feliz com o gosto gostoso de suco de manga quando já recebia convite para almoçar onde antes chamava de casa.

Olho as horas e, de repente, esses 180 minutos sem sinal me dão desespero. Queria um VHF. Queria um satélite. Queria unicamente saber como será quando eu voltar. Como será quando eu ver esses dias como quem olha para trás. Quando será minha vez de fazer o suco e até chamar para almoçar.

Uno Uno Romeu. Manetes em posição e agora é para valer. O bom e velho ciclo da vida.

terça-feira, junho 21, 2011

Em Brasília, 2 horas e 53 minutos.

Da manhã. Tenho medo do vento no pescoço, dos barulhos da rua. A mente vai e volta e contorna. Chego à pomba atômica da paz, bomba atômica que mata devagarzinho. Preciso dormir.

Sinto saudades, mas é saudades controladas. Até exagero na noite, todavia os horários me ajudam. Imerso-me em palavras perdidas mas volto para olhar se ficam repetidas muito próximas uma das outras.

As pernas dóem do exagero da corrida. Penso nas calorias queimadas na expectativa de centímetros irem embora. As calças ainda entram, não me importo. Tenho medo é medo de um dia ficar doente.

Ficar doente e deixar de passar noites acordado. Noites de saudades. Noites sem chocolate, sem álcool. Noites radioativas, mas sem cara pálida. Noites em que enlouqueço na cozinho. Olhando o reflexo feliz enquanto lavo as louças.

sexta-feira, junho 10, 2011

Andei sob chuva fina, spray aquoso que não molha, e resfria. Fechei meu casaco e baixei a visão. Ajustei o som e comparei Auf Der Mar com Lechantain.

Nos pés uma mistura de água e barro. Um céu lindo e um cartão postal. Pensamentos do mundo, pressa no pulso. Mais um dia.

Sou feliz em amar a sexta. A sexta de manhã. De riscar as frases com verbos, escritas com minha letra. Traçar planos até para cabelos brancos. Ou inexistência deles.

Adoro ir trabalhar a pé
Adoro caminhar na chuva
Adoro ter um fone de ouvido

Adoro quase aos 27 me sentir como aos 14