quinta-feira, junho 23, 2011

Uno Uno Romeu. É de onde parto. Dessa vez, para onde tão bem conhecia. Vou sobrevoar a Lagoa, passar ao lado do Pici, ver a Parangaba se tornar maior. Vou pousar e sentir o ar quente do avião.

Mas viajo tenso. Viajo de preto. Viajo no alívio de não precisar acordar mais todos os dias com medo de ser como um personagem do Camus. Não receberei telegrama. Talvez eu veja. Talvez esteja presente. Talvez só me espere para ir.

Olho para o meu dedo e vejo uma aliança. Olho no espelho e vejo que, mesmo tirada todos os dias, há uma barba ali. O rosto já não é mais jovem, e já não sou criança. E quem eu via como adulto, ficou velho.

Se voltasse no tempo e contasse quantos anos eu ainda a teria, talvez desse um desespero. Há dez, conquista era guardar 20 reais. Há cinco, ainda perdido, ainda sem certezas de futuro. Há tão poucos, ainda feliz com o gosto gostoso de suco de manga quando já recebia convite para almoçar onde antes chamava de casa.

Olho as horas e, de repente, esses 180 minutos sem sinal me dão desespero. Queria um VHF. Queria um satélite. Queria unicamente saber como será quando eu voltar. Como será quando eu ver esses dias como quem olha para trás. Quando será minha vez de fazer o suco e até chamar para almoçar.

Uno Uno Romeu. Manetes em posição e agora é para valer. O bom e velho ciclo da vida.

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