segunda-feira, junho 27, 2011

Me sinto como que alçado a um futuro distante rápido demais. Olho os homens de barba e as mulheres de calças sérias e imagino como eram há 10, 15 anos.

Pago minhas contas, uso anel na mão esquerda, planejo paredes e possuo rodas. Mas, sinceramente, não me sinto ainda como quem já terminou o colégio. Não mesmo.

Parece que, como quem desperta de um sono, eu vou voltar a qualquer momento para esperar o carro às 17 horas e ir para casa. Alguns tarefas a fazer e o desafio de no dia seguinte ir de perfume em busca de algum sucesso.

Torcer pelas terças e quintas por ser dia diferente, e planejar almoçar bem para conseguir guardar dinheiro. A meta é ter 8 reais por semana. Em um mês, faria mais de 30. Já o suficiente para ir ao cinema no horário mais barato, com lanche e passagem.

Penso em ainda pensar as escolhas para depois do terceiro ano. Puder mudar a vida inteira dependendo do último livro. Um dia, professor. No outro, ainda piloto. Mais um, arquiteto.

Esperar o fim de novembro por dois meses sem nada. E, hoje, imaginar que a vida poderia ir além de acordar tarde. Queria aqueles dois meses, agora. Iria a muitos lugares. Faria muitas coisas. Aprenderia outras tantas. E ainda tinha todas as manhãs. Todas.

Fazia planos simples. Tão simples quanto roteiros de filmes ruins. Na semana, esperava o pão do fim do dia e olhava com certa alegria para a lata velha que às vezes só tinha uma só opção de biscoito. Aos domingos, soltava sorriso aberto ao ver minha mãe meter cheiro verde no macarrão.

Minha mãe. Que não sei de onde tirava forças para roupas de cinco em litros de água, quilos de sabão e somente a força dos próprios braços. E trabalhava. E cozinhava. E limpava. E pagava as contas. E ensinava. E inventava.

Inventava que um ônibus que até passava pelo Centro e ia para uma praia pouco badalada podia ser um dia agradável. E convencia. E deixava o almoço já preparado a espera. E. se contava as moedas, não me fazia perceber. E eu sorria.

Sinto uma expectativa, esperança até, que isso tudo é só uma história muito criativa para minhas peças de Lego jogadas no chão em uma ordem e roteiro impossíveis para outros meninos bobos. Sim, eu elaborava detalhes que envolviam até cartão de crédito e partidos políticos.

É só eu conseguir fechar um pouco mais os olhos que os gemidos de dor que eu ouço agora vão se revelar só meus fantasmas de quando ficava só entre as 17h50 e 19h00. Daqui a pouco eu vou ouvir da casa ao lado que já começou Perigosas Peruas e vou guardar cada pedacinha no saco de supermercado.

Vou deixar tudo dentro do meu guarda-roupa e esperar para abrir o portão. O Del Rey vai sujar o azulejo branco do chão com um pouco de terra. Vão me dizer que já passaram na Padaria e que só demoraram um pouco mais porque os meninos tiveram quinta aula.

Eu só estou angustiado assim porque hoje é noite de terça e acabei brincando mais que deveria. Não fiz minha tarefa de casa. Não cumpri o que eu mesmo aguardava.

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