sexta-feira, agosto 01, 2008

O nome dela era Letícia. Correia Rodrigues, acho.

Cresceu com uma marca estranha, na bunda. Não lembra como foi, nem sequer chorou: ao som da faca e cor de sangue, só tombou mais forte entre os peitos da mãe. Essa outra, tão acostumada a ver vida crescer entre pernas de partos, via morte na pequena terra da família. Foram os dois cabras que cuidavam das cabeças e do pasto, foi-se a pouca riqueza praqueles homens de chapéu de cangaço.

Lá longe, bem longe, lá pras terras de muito mato, muita água e muito trabalho, a outra que não sei o nome, mas diz-se ter Leite ao fim, lavava roupa em um tanque maior que o Rio Nilo. Pobre dela. Como conta da lavanderia, perdeu um filho que nem sequer se decompôs em terra. Deglutido.

Relato lúcido do último ano de lucidez da mãe da minha mãe, entre promoção de Fiesta 97 0 Km e resultados de exames com vista para a escada do Center Um.
História do pai do meu pai. Das barbas incompletas bem antes que sujas de graxa e chinelas sem conceito de propriedade privada.

E eu, bisneto do irmão do devorado pela cobra, sobrinho-neto da esfaqueada por cangaceiro, criado com leite de salas de aula e motores batidos de Fuscas e Opalas, sorrio com a aprovação do Departamento de Ciências Políticas. E, por si só, isso me faz otimista.

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