terça-feira, julho 31, 2007

Quando está a três graus, corrijo-me, MENOS três graus, um fortalezense como eu, criado entre as fozes dos rios Ceará e Cocó, num embolado de ruas, morros, mar e sol, corre feito um doido. Vai logo, bate uma foto, dá uns pulinhos de felicidade e, logo em seguida, sente os ossos doerem. Pensa até que vão quebrar.

Daí torce que a roupa tivesse mais uns 10 metros de espessura, lembra que ficava só de bermuda e, mesmo tendo viajado tantos quilômetros com uma tremenda vontade de pegar esse tal de inverno, só deseja a hora, a bendita hora, de voltar; matar saudades, dela e da praia. É aí que Pinto Martins, mais uma vez, é nome santo.
Bem vindos a Fortaleza.

Sobrevivi àquela noite. E, pelo que parece ser, a mais 30! Por enquanto. É que ao contrário de "Olhos Famintos 2", que eu só continuei vendo para rir e imaginar a cara das pessoas apostando que era uma grande história, existem bons filmes. Um deles eu nem lembro o nome, só de uma cena. O menininho na maca, barulhos, movimento, e daí só o céu.

Era tudo branco. Bem branco. Somente branco. Daí, legendas: "-Vovô?! É você?" Era. Conversou um pouco, mas daí os tais barulhos saíram de uma constante, voltando a pulsos, voltando a imagem para a maca, voltando o sorriso dos pais.

Fiquei impressionado. Não fazia mais de um ano que aos cinco vi um balão de oxigênio desfazer meus sentidos para acordar sem poder usar as pernas, com um saco de bombons e essa cicatriz que até hoje guardo.

Tive medo de ir lá. Não por encontrar o vovô. Mas porque, pensando bem, branco com branco, deve ser um saco. Essa tal eternidade, que perguntei pra minha mãe quanto tempo durava. "Pra sempre". Como assim, pra sempre?

Devia ser um saco essa tal eternidade! No começo, beleza, não dá para morrer, onisciência total, oi vovô, oi vovó. Mas depois bem que ia ficar meio chato. Esse tal de pra sempre... ...E ainda mais sem cores!

Daí eu respirei. Fiquei com um pouco mais de medo do balão. Mas sempre que vôo, imagino um pouco como poderá ser lá: agua em sua forma gasosa, atmosfera rala. Maldita ponta de asa, que insiste em existir!