sexta-feira, dezembro 23, 2011
"Sonho de criança"
Ato Único
Criança com pirulito na mão. Professora com vestido florido. Cenário brasiliense ao fundo.
-Joãozinho, o que você quer ser quando crescer?!
-Eu quero ser burocrata!
-Burocrata?! Mas não é mais legal ser astronauta?!
-Não! Burocrata tem estabilidade, salário alto e vai embora 5 horas!
-Mas Joãozinho, ser bombeiro é mais radical!
-Radical nada, quando eu crescer eu só vou querer me dar bem
-E ajudar as pessoas não é mais legal?
-Elas que trabalhem muito para pagar meu salário!
Pano rápido
Fim
quarta-feira, dezembro 21, 2011
"A esperança é o bem que mais se consome e aquele que menos se esgota."
Octave Feuillet
E lucidez é rir de si mesmo quando pega o próprio cérebro em flagrante criando pensamentos que pensam que são morfina.
Eu faço uma ou duas perguntas e cada um se desfaz em uma nuvem de lógica.
Não vou deixar ninguém me enganar. Nem eu mesmo.
sexta-feira, dezembro 16, 2011
A única hora verdadeira fria em Fortaleza é a sexta da matina.
A luz chega bem rápido e dá pra ouvir pássaros e um ou outro galo perdido. Chance única de ter lençois frios e um quarto na penumbra.
Creio que entre 1986 e 2001, meu mais sincero e real desejo dos dias úteis foi que nesse horário, após me acordar, minha mãe me concedesse o júbilo de voltar para a cama.
Ela nunca deixou. E levou ainda alguns anos para perceber que ela levantava ainda mais cedo.
Então hoje, como uma homenagem meio torta, às seis da matina eu vou colocar o "espinhaço" no fundo de uma rede. Antes, um beijo na testa de "boa noite, já é de manhã".
A resposta é previsível: "Ai vai". "Berel"
quinta-feira, dezembro 15, 2011
terça-feira, dezembro 13, 2011
Só quer se for férias ou se contenta com um feriado no meio da semana?
Aceita somente uma noite de sexo ou já fica feliz com um beijo apaixonado?
Deseja somente a plenitude ou já fica feliz com a felicidade simples?!
Pois bem: uma mãe que só mexe uma perna, não lembra da metade do que fala e tem pouco tempo pela frente já é capaz de me fazer muito, muito, muito feliz.
sábado, dezembro 10, 2011
sexta-feira, dezembro 09, 2011
Que me dera uma roupa démodé.
Fora de moda, inadequada. Um sucesso nos anos 60, ridícula, hoje. Colares grandes, bolsa colorida, má combinação de peças. Mas tudo isso embaladinho, com presente encomendado para quem tentaria me convencer que lasanha, pode sim, ter pedaços de pimentão.
Eu discutiria, eu a acharia ultrapassada, eu até riria. Já fora do alcance educador, mas ainda pleno de consideração, trocaria presentes antiquados por lembranças voltadas para a criança que já não sou mais.
Teria centenas de palavras, milhares delas. "Brega", "ultrapassada", "museu", "velha", "véia". Conviveria com uma velha como livros antigos empoeirados, mas que gostamos de vê-los na estante. Pelo menos para vê-los.
Eu traria na minha mala as peças de roupa démodé. Eu sentaria por horas para ouvir considerações com base em pensamentos de antes do meu nascimento.
Mas, de onde vim, das entranhas que eu não vi me parir, não há mais espaço para moda antiga nem de hoje. Nem palavras engraçadas, nem presentes bizarros. Não me resta a alegria de escolher sequer um livro, um filme ou o pedido "faz aquela lasanha para mim".
Minha orfandade cresce como meu medo e meu temor, ocupa o vazio da esperança deixada e, cada dia mais, deixa de ser pesadelo para se tornar tão real. E eu ainda queria só agradecer até pelos Não que recebi por muito merecer.