segunda-feira, janeiro 25, 2010

Estar só é como se todos tivessem morrido por um instante. A janela só mostra a árvore, as paredes não dizem nada, não há água, não nada. Mas, logo em seguida, descobre que lá onde seria sua casa há sorrisos, comida e animação. Desliga o som da música repetida e um dos vizinhos faz lembrar que sim, há vida. Há vida.

Há vida lá fora. Fora do casulo, fora do meu lugar. Fora do meu caixão?! Estar só é como estar morto por um instante. Pelo banho que não toma e o cheiro que o toma após um dia a rolar sem nada fazer. O sono intermitente que vai e vem, fazendo tudo, menos estar acordado. Menos estar de pé. Acorde! Levante! Faça algo! Nada. As roupas ficam jogadas no canto de uma parede.


Visto um casaco. Desço. Boa noite. Bom dia. Boa tarde. A quantidade de palavras vai se reduzindo e é um prazer ver a moça errar o preço do sanduíche só para ter uma frase a mais. "Não. É três e oitenta. Olha aqui". Ainda sei falar! Ainda sei o que é abrir a boca e emitir sons para alguém! Mas logo me preocupo que a padaria tão próxima e vazia não é minha casa, e não lembro quando escovei os dentes.


Como quieto. Vou embora pela portas dos fundos. Caridoso, o mendigo me cumprimenta. Elevador. Quarto andar. Abro a porta e já é noite escura. Deixo a escuridão me envolver. É agora, quem sabe. Deito sobre o plástico do colchão guardado para quando tiver vida. Preciso de um banho. Preciso arrumar minhas coisas. Preciso ver se vai dar certo a máquina de lavar naquele canto. Preciso fazer o tempo passar.

Levanto. Vi que o telefone tocou. Ainda bem. Ligo, e volto à vida. Ainda com gosto acre na boca. Ainda em putrefação do ser e de aroma das axilas. A barba crescida como quem esqueceu o dia a dia. Quanto tempo faz?! Dois dias. Só dois dias. Mas só mais alguns para pular da tumba.
Pular e dançar qualquer música sem graça. É que meu telefone tocou. E cada item da mochila, gigantesca mochila, ganharam justificativa. Ainda bem. Um avião vai me levar. Um avião vai me salvar.



Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante o que escreveu sobre a solidão e a morte... Palavras soltas cotidianas mas repletas de reflexão sem nenhuma superficialidade.