quarta-feira, dezembro 15, 2010

Rio do inglês correto, mas errôneo. Mais uma vez, o voo está embarcando. Is now boarding. Snowboardig. Imagino a prancha colorida na montanha nevada. O sorriso do turista, entre todas essas caras.

São faces de olá. São faces de adeus. São faces como a minha, de até logo. Rostos que dizem "não vou mais para o trabalho de ônibus". Mas levam horas, dias até, para voltar para casa.

Ouço os sotaques de todos os locais. Nesse caos-aeroporto-lotação de capital do Brasil em um domingo à noite. Os R puxados. Os xiados que até irritam. Nosso canto cantado.

Se contar com os dos pés, uso os dedos para quando estarei na praia. Pai, mãe, todo mundo, areia, um natal como não tive ano passado. Feriado que conquistei e que agora conto em muitos dedos.
Há pouco estive lá. Quando a porta traseira abriu, abri os pulmões e inspirei fundo aquele ar que sempre confundi com vento. Não era frio, mas refrescava. Agrádavel, meio molhado, de casa.

Mas não pisei no solo. Não saí do avião. Deveria permanecer imóvel, pois não era meu destino. Cruel. Como quem rezou demais e recebeu punição. Eu, que tinha o Makro e a Lagoa da Parangaba como locais de tristeza, vontade e esperança, naquela hora só podia me esticar e ver de longe as ruas amigas sumirem sob a asa.

Ah! Aquele destino um pouco ao Norte, um pouco ao Leste! Um tanto da minha vida, que sorte! Como mais perto do sol, mais perto de mim. Mais perto de ser feliz. Onde não é mais casa, mas para sempre será um lar.

Atrás de mim, agora, uma fila vai para lá. Vontade de apertar as mãos, um a um, e desejar boa viagem. A fila se vai. A moça de preto e vermelho mal olhas fotos. Não confere os bilhetes. Nada. Ela só recolhe os papéis, nesse caos-aeroporto-BSB. Haverá uma poltrona vazia?

Posso correr, posso fugir. Posso só depois fingir que foi engano. Mas merda, sou lúcido, Campos. Vou mesmo para Manaus.

Com muitos dedos nas mãos. E nos pés.

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