sexta-feira, setembro 29, 2006

Eu até consigo rir.

E isso é bom. Não senti vontade de matar ninguém. Nem espancar. Nem sequer perdi minha crença em nada crer. É cruel assim mesmo. Na garupa do PM, forcei os olhos para ver se via alguma coisa. Mas nada. Eu deveria ter os visto antes. Eu sei que correndo seria mais rápido. Mas não vi chegarem. Depois que chegam, o melhor é ficar parado.

Mas é assim, afinal. De tão acostumado, já me livrei várias, várias, várias vezes. Mudo de rua. Entro em algum lugar. Converso. Uso a velha desculpa que não tenho nem o dinheiro do ônibus (e dá certo). Até corro, quando preciso. Mas de tão cansado que estava eu sequer vi se aproximarem. Errei. Nove horas não são seis. Atenção não vem depois de tanta labuta.

E tão pertinho de casa! Tão perto! E mais perto ainda das duas motos da policia que passaram uns 30 segundos depois, mas não viram os braços ao céu. Muito menos ouviram. 190. Relativa demora. Ronda, e já era. Foi-se: sou estatística.

Mas eu rio. Imagino os dois vendo um alvo fácil: olhos quase fechados, fone de ouvido (onde eu tava com a cabeça?), passo lento. Imagino que gritaram "-É um assalto!". E nada. Precisaram pegar no braço como quem diz "-Onde que fica a Coronel Pergentino Maia?". Eles bem sabiam.

Só não eram muito espertos. Ficaram sem carteira. Sem celular. Levaram só um negócio que acharam meio esquisito. Foram embora olhando, provavelmente porque nunca tinham visto um antes. Vão vender barato: tava até começando a quebrar. E eu não perdi meus reais, nem meus números. Só me foi embora, com a velocidade do crime, a suave voz da Fernanda cantando o que eu já sabia.

"Você pensa que faz o que quer
Não faz
E que quer fazer o que faz
Não quer
Tá pensando que DEUS vais ajudar
Não vai
Que que há males que vêm para o bem
Não vêm"

E foi-se.

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